Texto/Fic:
@ValzinhaBarreto
Beta: Daya Engler
Música tema: Mirrors – Justin Timberlake
A
vida nem sempre segue o percurso que planejamos, como poderia se agimos tão
impulsivamente? Uma vez ou outra nos vemos em diversos impasses, seja uma
dúvida simples, uma decisão importante, a perplexidade das nossas escolhas ou
ainda a imensa vontade de ceder aos nossos impulsos deixando os temores de
lado.
Algumas
ocasiões fazem com que repensemos momentos que marcaram positivamente fases
capazes de fazer de nós pessoas melhores, mas e quanto às experiências
frustrantes? Elas nos tornam piores? Não aprendemos nada com as negatividades?
Para que servem?
Em
outro momento da vida podemos tentar definir o que pode ser conspirado como
aprendizado. Do que devemos nos apropriar ao defronte com as decepções que
tivemos pelo caminho?
Ao deparo com esses questionamentos vemos
acontecimentos que nos fizeram crescer de forma dolorosa, árdua, mas não deixa
de ser uma forma de crescimento.
Demora
certo tempo até descobrirmos como usufruir das decepções e crescer com elas. Isso
nunca pode exterminar a busca por novas emoções, não se pode atropelar a força
de vontade de seguir em frente, a confiança de se abrir novamente, ou subestimar
a experiências que não deram muito certo.
Essa é uma escolha, mas existe a opção de escolher
se fechar temendo novas decepções igualmente marcantes, todavia, embora seja
menos doloroso, de que outra forma aprenderíamos tão veemente o que
necessitamos para construção da nossa individualidade?
Não
aprenderíamos.
Muitas
dúvidas perduram sobre nossas reflexões por diversas vezes, mas de uma coisa
podemos ter certeza, a dor ensina lições que nunca seriamos capazes de aprender
de outra maneira.
Você
pode escolher não ceder por um tempo, mas nunca por todo o tempo. Uma hora sua
armadura cai por terra e você se vê em um dilema: amar tendo o paraíso e o
inferno ou não amar e ainda assim ter porções dobradas dos dois. Qual a pior
dor, a de amar e sofrer ou a dor de se sentir incapaz de amar novamente? A
primeira dor é quase destrutiva, mas a segunda é uma verdadeira tragédia e cabe
a cada um a escolha de se render ou não a ela.
Em
posse de meus estorvos, fazia-me questionamentos a cerca do que eu sentia tendo
em mente que eu o amava, mas tendo também a responsabilidade por mim mesma,
pelos meus atos, pelo sofrimento que minhas escolhas poderiam acarretar. O que
eu faria?
Apenas
na média claridade das velas confrontei seus olhos marrons apurados quando me
desfiz dos seus lábios. Meus sentimentos mais uma vez se rendiam. Nessa ocasião
meu corpo seguia ao ritmo de ¹Just give me a reason avançando nossos movimentos conforme meu
corpo se rendia a liderança do seu.
Taylor
tinha uma habilidade para dançar que o tornava único, majestoso e de certa
forma delicado em cada movimento que seu corpo produzia ao rodar pela sala
dominando-me completamente.
Meu corpo era dominado pelo seu embalo e minha
mente roubada pelos desejos inevitáveis que faziam um não virar um sim
imediatamente. O dançarino do encanto que possuía e elevava seu charme deixando-me
magnetizada com seu rebolado em meio aos meus tímidos passos tentando segui-lo.
A
intensidade da dança impedia que meus pensamentos se sobressaírem em meio a luta
constante que queria dar lugar a realidade e a tudo que havia me guiado até
aquele momento. Insuficientes traços de hostilidade de me tomaram por um
segundo.
O
que eu havia sido capaz de fazer por amor? Do que abri mão por ele? O quanto eu
havia sido prejudicada e prejudicado por acreditar no amor que eu sentia? Meu
coração ficava atordoado ao pensar no que ainda poderia dar errado. Eu já havia sofrido o suficiente.
Minhas
reflexões foram expulsas ao sentir sua pegada forte em minha cintura. Não só
esta, mas todo o conjunto, seus dedos, o aperto, o calor que despontava dele,
tudo tornava mais intenso fazendo com que a cada segundo que dançávamos juntos eu
tivesse miragens do que eu gostaria de ter em porções maiores.
Guiando
minha mão, Taylor me girou calorosamente me abraçando por trás dançando a
música enquanto sua outra mão permanecia em meu quadril dando leves apertos
conforme a necessidade de me apoiar. Era a forma que encontrava de me oferecer
suporte, um verdadeiro oceano de lubricidade me impregnava fazendo sentir
aquecer em lugares acuados, antes daquele minuto.
Experimentei
sua respiração e seus dedos se soltando do meu quadril, contemplando a cena dele
afastando-se em um rebolado provocante. Parecia querer fazer um esboço do que
ele havia de melhor, mal sabia que não lhe havia nada que não fosse supremo.
Embora
Taylor não estivesse com suas mãos em meu corpo, nada impedia que ainda assim
me causasse deleite. Não fui privada de ser surpreendida com as suas mãos,
agora ambas em sua cabeça e seu mais recente rebolado arrebatador.
Não
vi apenas sua sensualidade exorbitando. O vi sugar toda força que eu fingia ter
para não me render aos seus encantos.
Provocativo,
desejei que as suas mãos agora coladas em sua nuca viessem para mim, eu
precisava daquele afago, da perspectiva de tê-lo mais intimamente.
Oferecendo
sua mão para retornar a dança colada, soltei meu corpo agora o deixando ainda
mais brando conforme requeria os passos da dança e o ritmo.
Senti um leve abraço ao percorrer o salão improvisado
para seu show e se afastando do meu corpo, manteve apenas minhas duas mãos
juntas a as suas causando um pequeno distanciamento.
Seu olhar seguiu meu decote esboçando um quase
sorriso que conspirava em conjunto com seu olhar petulante e seus cabelos
arrepiados. Os fios refletiam a luz das velas acompanhando a sombra do seu
corpo evidenciando sua sensualidade que eu já conhecia, porém ainda mais
alucinante que de costume.
Tornando
a colar nossos corpos me permiti sentir um pouco mais da fragrância que exalava
do seu pescoço desejando em seguida um beijo, mas seu recuar impediu minha ação
momentânea.
Taylor
me soltou durante a dança se afastando em passos solos tirando o smoke tal qual
um estripper e lançando longe se aproximou novamente em passos circulares ao
meu redor retirando a gravata borboleta e jogando também ao chão. Um arrepio
perfurou minha alma. Ele me tomou pela cintura, me guiando em passos mais
rápidos conforme a entonação da ²Pink e batida da musica tirando meu folego,
tal qual um casal de dançarinos em performance de ³break.
Senti
seus lábios beijando meu busto, me abstendo da pouca razão para em fim
beijá-lo. Degustei do quase tocar dos nossos lábios, mas eis que o demônio
desviou sua face e passando suas mãos sob minha nuca beijou minha testa e se
afastou ao último toque do piano.
Desconcertada,
apenas contemplei sua face serena seguida aos tons dos reflexos das velas e
senti o cheiro do seu perfume se misturar ao odor que difundia das velas
aromáticas.
Olhei
em sua face buscando metralhá-lo com o ressentimento que senti por seu esnobe
deixando-me ainda mais confusa ante suas últimas atitudes. Taylor era o
arco-íris da cela de prisão em que me mantinha devido a fuga do amor que eu
sentia por ele.
“Diga-me
o motivo pelo qual eu não pude te beijar agora?” pedi indiscreta. Ele apontou o
dedo e tocando na ponta do meu nariz em gesto carinhoso moveu seus lábios
rosados para a pronúncia das palavras que eu tanto almejava.
“Sally”
falou respirando fundo e completou “Antes me diga o motivo pelo qual deve me
beijar?” pediu em contrapartida.
Senti
a raiva tomando conta de mim. Era um misto de decepções e frustações que
somente eu poderia entender, pois era meu coração que estava na berlinda.
Feito
uma desgraçada apenas olhei-o relembrando suas atitudes e o porquê desse circo.
Os questionamentos vieram à tona tirando a magia que ele havia criado no
ambiente, mas ele a recuperaria. Infame.
“Mas
que droga Taylor! Estou cansada de suas meias palavras, de suas meias verdades,
e de toda essa merda. O que fato você veio fazer aqui?”.
“Quero
apenas que você entenda como eu sou de verdade Sally. Quero que você pense em
como eu quero ser de hoje em diante”.
Sua
expressão era tão séria que mereceu a contenção da minha raiva, mas igualmente
a uma bomba, ela havia sido contida, mas não eliminada, o que a deixava prestes
a explodir a qualquer momento.
Reprimi toda a raiva de dentro de mim para ver
até onde ele chegaria. Eu daria substancia para que continuasse.
Taylor
ignorava meu nervosismo como se não o temesse.
Com
apenas um olhar guiou-me a sentar-me à mesa novamente arrastando a cadeira como
um cavalheiro e acrescentando um pouco mais de vinho em ambas as taças.
Sequei
completamente a taça de vinho todas as vezes que ele as abasteceu. Isso o
deixou preocupado inicialmente, mas fingiu que minha atitude não o incomodava.
O
que me intrigava eram suas ações quase nulas em lutar por mim. Ele não pediria?
Não imploraria? Era seu ego? Era seu orgulho? O que ele estava esperando?
Apenas se divertia com meu desespero? E se ele quisesse ficar comigo agora, eu
cederia? Existia essa possibilidade?
Ali
estava eu novamente em uma briga constante entre ceder ou não. A dois passos do
paraíso e possivelmente a três do inferno perguntava-me o porquê de ele ser tão
envolvente.
Qual
caminho eu seguiria? Como decidir isso sentindo seu perfume tão perto? Como
dizer não se ele era tão meu e me render parecia tão certo? Ao mesmo tempo em
que questionava também me odiava, pois ele não forçava nenhuma decisão.
Tudo isso era inútil, as dúvidas, as
possibilidades e minhas estratégias de fugir do que eu sentia.
Taylor,
por sua vez, parecia estar certo do seu propósito ali.
Ele
apenas propunha um jogo de gato e rato? Eu logo descobriria.
Esses
questionamentos logo provariam que minhas teorias eram contrárias as suas
atitudes uma vez que em momento algum Taylor me pediu perdão ou solicitou uma
chance. O que ele queria afinal?
Ele
parecia prever meus pensamentos.
“Não
se torture dessa forma” falou levando a taça de vinho à boca.
“A
que se refere?” perguntei fingindo não entender.
“Apenas
retome seu jantar. Temos a noite inteira Sally, mas vá devagar com o vinho”.
“Temos?
Pode me dizer o que está havendo?” insisti.
“O
que você acha que está havendo?” perguntou em meio tom.
“Eu
não sei o que está havendo Taylor. Eu esperava que você me dissesse o porquê
desse jantar, das músicas, dos presentes. O que você quer com tudo isso?”.
“O
que eu deveria querer?” respondeu com outra pergunta focando o aparelho de som
e se levantando para colocar uma música.
“Eu
não sei. Diga-me você” murmurei.
“Eu
não vim aqui para isso. Não quero discutir com você Sally. Isso é tudo que
tenho a dizer nos próximos minutos” esclareceu procurando a música.
Plateau
invadiu a sala de estar. “Maldito” pensei comigo mesma graças ao som de Nirvana
que complicava tudo ainda mais. Umas das minhas canções favoritas.
“Não
sei qual é o seu jogo, mas ele está me cansando” falei largando os talheres e
atentando a voz de Kurt Cobain tão surpreendente.
“Retome
seu jantar, logo virá a sobremesa” ele disse após sentar-se novamente a mesa.
“Não
estou com fome Taylor. Não me leve a mal. Tudo isso foi uma surpresa e em outros
tempos eu ficaria feliz, mas agora não há como ver um futuro para nós diante de
tudo que você fez”.
“Eu
concordo plenamente Sally, agora retome seu jantar” pediu.
“Okay!
Vou entrar no seu jogo se é o que você quer” falei.
“Você
disse que não sabia qual era o meu jogo agora diz que vai entrar?”.
“Você
acha isso divertido Taylor?”
“Não
vejo diversão aqui Sally. Não estou brincando. Não estou aqui para lhe propor
nada, muito menos para impor”.
“Então
por que não vai embora?” perguntei cansada de não ter respostas.
“É
isso mesmo que você quer?” perguntou levantando-se da mesa obrigando meu
coração a implorar em um brilho para que permanecesse.
“Eu
não sei Taylor. Tudo isso está me deixando confusa”.
“Tudo
isso?” perguntou docemente sentando-se novamente.
“Tudo
isso: as músicas, o presente, o bilhete e as rosas. O que está acontecendo?”
“Pergunte
isso a você mesma”.
“Eu
estou perguntando a você. Porque quanto a mim sei quais as repostas. Não se
finja de rogado. Você me deve explicações, não eu a você” falei dando a prévia
do duelo que se iniciaria.
“Acha
que pode superar que houve entre nós?”.
“Não
sei se posso superar Taylor”.
“Eu
poderia te mostrar o campo que é aberto quando superamos algo”. Taylor disse
delicadamente.
“Eu
continuo não sabendo se posso superar tudo que houve”.
“Então
avise-me quando estiver pronta” disse unanime.
Eu
estava tonta pelas taças com vinho que havia tomado, portanto segui até o
banheiro fugindo não só do assunto em questão, mas para repensar minhas ações.
Eu não iria ceder a seu romantismo como uma tola. Eu não seria tão fácil como
ele parecia presumir.
Minha
consciência ajuizava diante do espelho perguntando-me o que de fato estava
acontecendo.
A
situação era mais confusa porque Taylor não estava me pedindo uma chance, bem
como não apenas me mostrava quem ele era antes de cometer os erros que me
deixaram tão ferida sentimentalmente.
Ele também me propunha um novo eu, sugeria
outras facetas suas que eu desconhecia fazendo-me questionar se eu o estava
julgando errado durante todo esse tempo.
Eu
havia pensando em como eu me sentia diante de todas as lembranças, mas não como
agora, as recordações eram mais nítidas depois que ele me fez reviver alguns
dos nossos momentos felizes, dos sorrisos e de quem éramos juntos.
Taylor
havia errado, mas isso não me dava o direito de olhar para trás como se ele
cometesse apenas erros, como se ele não fizesse nada de bom, ou como se não
houvesse parcelas minhas também.
Era
difícil admitir depois de toda a dor o quanto somos felizes quando deixamos
nosso orgulho de lado e cedemos espaço ao que sentíamos. Taylor, contudo,
parecia não querer ceder e eu não o faria conforme ele esperava, eu relutaria
por todas as cicatrizes que ainda estavam cravadas em mim.
O
banheiro pareceu solitário. Joguei um pouco de água no rosto enquanto me
perguntava: “Suas qualidades poderiam abonar seus defeitos?” meu fraquejar foi
somente naquele segundo e minha astúcia estava de volta.
Como
eu me sinto diante disso tudo?
A
resposta veio subitamente abduzindo a astúcia da mesma forma que chegou. Eu
sentia que tudo valia a pena. Embora eu houvesse sofrido com seus erros, eu
tinha motivos o suficiente para pelo menos cogitar a possibilidade de tentar
recomeçar depois de tudo. Talvez merecêssemos isso e o problema estava
justamente aí.
O
problema eram as ausências de algo mais concreto. Eu não tinha convicção de
nada. Era como se eu tivesse em posse apenas de um amontoado de possiblidades e
hipóteses. Ele queria ou não ficar comigo? Se queria por que me evitava de tal
forma?
Refletindo
sobre isso, ouvi a musica mudar, experimentei um novo arrepio percorrer meu
corpo. Era 4Look after you. Taylor se mantinha cada vez mais enigmático. Como
ele poderia não me querer de volta e colocar essa musica? Ouvi-la era como uma
confissão sua em um desejo imutável de cuidar de mim.
Ele
não poderia ter pegado tão pesado, essa musica era tudo que precisava ouvir.
Decidi levá-lo até seu extremo para ver de fato do quanto além estava disposto
a ir.
Se era um jogo ou não, eu o jogaria.
Saí
do banheiro e retornei à sala revigorada pela música e curiosa para vê-lo em
posse da nova coragem que havia buscado longe para enfrenta-lo agora mais friamente.
“Sente-se
aqui” convidou com uma expressão tépida e pacifica passando os dedos sobre a
cadeira.
Suas
mãos tocaram meus joelhos me deliciando com o deslizar de seus dedos pelo meu
tornozelo suavemente.
Taylor
retirou meus sapatos iniciando uma massagem relaxante mantendo-se de joelhos no
chão e olhar fixo em mim. Desfiz-me da tensão quase nula e sorvi por um momento
o cheiro dos seus cabelos.
Senti
meu coração pular quando suas mãos transitavam entre meus tornozelos e minhas
pernas seguindo até a flexão dos meus joelhos.
“Droga!”
gritava minha consciência em sua despedida. Taylor parecia prever minhas ações
como se soubesse tudo o que fazia e o que podia me causar.
“Você
se lembra do quarto azul?”
“Sim”
respondi.
“Eu
fui com muita sede ao pote. Estou devendo algo que eu gostaria de ter feito
querida”.
“Pode
fazer agora. Ainda estamos vivos” concordei.
“Sabe
aquela música que ouvimos naquela noite?” continuou.
“Qual?”
falei vendo sua face seguindo as luzes da vela.
“A
que ouvíamos quando você correu suas mãos pelos meus cabelos daquela forma
amor?” ele perguntou tragando minha orelha pausadamente.
“Eu
apenas soube que a música tinha mudado, parecia ser Mirrors, não sei ao certo”.
“Talvez
você tenha certeza agora” falou levantando-se com um sorriso malicioso
aproximando-se do aparelho de som novamente colocando a música Mirrors.
Enquanto tocava a abertura instrumental, o vi
colocar de volta o smoke. O que ele faria? Relembrei a batida sensual que havia
reverberado em meus ossos naquela noite. Era mesmo Mirrors do Justin
Timberlake.
O strip-tease que se iniciava colocaria fim ao
pequeno vestígio de razão que havia em mim.
Visualizei
seu estalar de dedos seguindo a musica dando um aspecto de surpresa pelo que
viria, ele faria ou não? Não me prendi ao que ele fazia. Tudo parecia
proposital demais.
Relaxei
meus músculos como se nada mais importasse. Nada senão a apreciação da visão da
dança sensual na minha sala de estar. Convicto do seu show, eu o deixei
acreditar que estava no controle.
A
música seguia e a batida deixava-o cada vez mais concentrado. Espontaneamente o
vi se desfazer do smoke. Sorri por dentro diante da sua face ousada, eu
venerava o modo como transparecia esse seu lado.
Taylor
transpirava sensualidade e parecia estar certo disso pela forma como iniciou o
desabotoar de cada botão da camisa tão calmamente sempre provando da minha
expressão causada pela sua ação. Eu não demonstrei surpresa. Porque ficaria?
Maliciosamente
o vi rebolar de costas e lançar a camisa tão longe quanto o smoke como se fosse
mero artifício. Ele parecia nunca mais querer fazer uso delas novamente.
Taylor
focou a vela que estava em sua última chama prestes a apagar. Antes que eu
pudesse desfrutar o suficiente ele me intimou com a ponta dos dedos tirando os
sapatos para que não machucasse meus pés.
Levantei
indo em sua direção enquanto ele permanecia na melodia da musica.
Com
um toque em minha cintura Taylor dançou ao redor de mim colando de costas e
colocando minhas duas mãos sobre seu abdômen incentivando-me a acariciá-los.
Eu
o toquei conforme desejava esperando sua próxima ação.
Enquanto
eu percorria cada gomo do seu abdômen, acompanhei seu guiar até o zíper da
calça. Ele não as tiraria, não era seu dever forçar nada, deixou claro. As
calças só sairiam se eu quisesse, se eu as tirasse, se eu desejasse o que havia
após ela. Pelo menos era o que eu pensava. Era isso que ele queria que eu
pensasse.
Aquela
Oxford era a única coisa que me mantinha longe do meu objeto de desejo, mas ele
não apenas queria que eu o acariciasse, e logo senti suas mãos sobre meus
cabelos puxando meu pescoço para se aconchegar ao seu.
Embora
não admitisse, ele me tinha, mas eu também o mantinha ali, ele estava preso de
certa forma, estava tão entregue ao momento quanto eu. Igualmente arrebatados
cedíamos aos instintos, aos desejos do nosso corpo, ao poder da tensão sexual
sempre presente em nossos encontros.
Leviano,
o ouvi suspirar fundo o perfume do meu pescoço.
O
toque de suas costas fortes na minha frente causava-me algo desesperador.
Desabotoei a calça e desci o seu zíper tranquilamente enquanto via a última
chama da vela apagar sentindo seu corpo se afastar logo que a calça foi ao
chão. A música chegou ao fim causando-me uma sensação de tristeza pela forma
como o show parou.
Um
grande silêncio invadiu a sala. Passei as mãos deparando-me apenas com o vento.
Ele teria ido colocar outra faixa de sua playlist?
Havia
uma grande escuridão na sala já que a última chama da vela havia levado além da
luz, também meu amor.
Procurei por ele próximo de onde estávamos,
mas não havia sinal de sua presença além do grande silencio que reinava dando
lugar ao mistério. Aonde ele havia ido?
Enquanto
fazia minhas busca, tropecei em algo pelo chão. Abaixei pegando suas roupas
amontoadas no mesmo lugar. A pequena peça íntima não estava na lista que eu
procurava. Ele estava completamente nu.
Senti
um calafrio por um momento. O que ele planejava?
Aproximei-me
da porta da casa, havia um pequeno sinal de luz que aumentava ao passo que eu
avançava. Encontrei um caminho iluminado por pequenas e redondas velas que
clareavam o caminho até a piscina.
Meu
Deus. Amei a visão e odiei sua ousadia.
Em
uma das cadeiras de sol notei seu corpo escultural completamente nu estendido
sobre ela nutrindo minha visão em um vislumbre surreal. Parecia ser um sonho ou
o paraíso estava ali diante de mim.
Taylor
me aguardava com sua forma física luxuosa soltando um pequeno riso ao ver que
eu havia seguido a trilha de luz que ele havia deixado. Ele esperava que eu
tivesse outro surto de raiva e iniciasse uma discussão? Isso ele não teria.
Vendo
seu corpo nu estendido sob a cadeira me desfiz do vestido para ver até aonde estava
disposto a ir.
Embora minha ação fosse aparentemente pensada,
eu era humana, e não havia como medir o calor que se excedeu lá em baixo levando-me
a deitar sobre Taylor beijando-o finalmente como ele parecia quer.
Era
um ato de ousadia tentar uma penetração, mas tentei sem rodeios, Taylor, porém,
apenas o encaixou abaixo dela não permitindo a penetração. Isso era como uma
tortura, a sua aversão, sua rejeição, eu ainda não sabia ao certo. Ele não queria
fazer amor comigo? O questionamento roubava minha sanidade.
Taylor
acariciou meus cabelos e beijou-me de volta desfazendo todas as minhas ações
para iniciar o sexo. O desejo corroía o meu interior enquanto eu buscava por
seus movimentos capazes de causar-me o mais extraordinário prazer, todavia ele
não parecia querer satisfazer meus anseios naquele momento.
Dada
a sua resistência senti junto à absoluta excitação, uma pequena dor em meu
clitóris somando uma grande angustia que tão somente aumentava a cada minuto.
Permaneci
molhada e absorvida por seus toques e seus lábios saborosos em um beijo agora
mais intenso. Nossos corpos tremeram revigorando a tensão que eu sentia.
Ele
parecia estar prestes a se entregar as minhas carícias, mas o palpitar do seu
coração acabara de me dizer o contrário. Eu o conhecia. Sai de cima dele igualmente nua e entrei na piscina
buscando refrescar o tesão que me deixava incapaz de pensar em nada
senão no quão ereto ele se mantinha como se me provocasse.
Eu
não pude ver seus olhos em minhas nádegas, mas podia supor. Taylor era muito
disciplinado, esse era o único motivo pelo qual resistia a mim e a todas as
minhas suscitações.
Ele
se colocou de pé em seguida olhando-me nua dentro da água. O vi pulsar apesar
da pouca luz que obstruía minha visão.
“Como
está a temperatura da água?” perguntou.
“Está
ótima junte-se a mim” convidei provocante.
“Promete
se comportar?” pediu com um meio sorriso.
“Eu
prometo” falei vendo-o descer os degraus da piscina.
“Já
fizemos amor debaixo d’água lembra?” investigou.
“Como
poderia esquecer?” lembrei.
“Não
poderia” concluiu mergulhando e saindo em minha frente com seu rosto colado ao
meu.
Surpreendente
Taylor levantou minhas duas pernas para fora da água, o vi morder os lábios
visualizando-a tão sua.
Ele
não poderia fazer isso, mas fez.
Taylor
mergulhou. Quanto folego ele possuía? Fitei seus lábios submergidos pela água, embora
duvidasse do que ele pretendia pude desfrutar a sensação gostosa daquele oral
nunca experimentado antes, não daquela forma, não com aquele efeito, de fato
ele não havia perdido a capacidade de me surpreender. A essa altura eu já
deveria ter me acostumado com as surpresas que só ele era capaz de fazer.
Seu
folego não durou tanto quanto minha libido desejava colocando fim a gostosa
sensação de sua língua passeando pelo meu interior. Meu corpo integralmente
reclamou o término da deliciosa sensação submersa.
Ele
não havia desistido.
O
vi puxar a respiração e mergulhar novamente circulando agora meu umbigo e
mordendo sua pele fina puxando de forma tão apetitiva que me fez eriçar.
Maldita carência que absorvia minhas energias.
Agora
não era necessário estar submerso, ele apenas encostava seus lábios molhados em
meus seios circulando-os com sua língua afundindo as gotas de água que havia
sobre eles, sua lambida eufórica elucidava ainda mais o prazer que eu sentia.
Era magnifico, mas sua resistência não tinha limite.
Beijando-me
senti suas mãos percorrerem minhas pernas enquanto seus lábios se aproximaram
dos meus ouvidos.
“Chega
por hoje né?” sussurrou.
“Como
assim chega?” enervei.
“Não
posso transar com você Sally”.
“Sério?
É meio tarde para dizer isso porque a droga da sua língua estava ali embaixo há
um minuto” disse ralhando.
“Acho
que está zangada porque ela não continua lá embaixo, mas sexo agora será um
erro”.
“Você
só pode estar brincando comigo Taylor. Primeiro você faz um strip-tease na
minha sala, fica nu e foge no escuro, me rejeita na cadeira de sol e agora me
vem com essa?”.
“Aquela
noite como lembrança foi um erro Sally”.
“Erro
foi pensar por um momento que havia uma chance para nós dois. Quer saber?
Foda-se! Você tem feito as coisas pela metade durante toda a noite, obrigada
por me mostrar que só posso ter 50% de você. Agora sai da minha frente”.
“Não
fiz nada pela metade Sally. Eu penas lhe dei prévias. Dei-lhe algumas prévias
do que pode ser seu” falou vendo-me sair da piscina.
“Então
tudo isso pode ser meu? Que desempenho de merda, estou muito bem obrigada.”
“Amor
o que fiz aqui sequer foi 10% do meu potencial. Apenas me dê uma chance de lhe
mostrar os outros 90%” ele disse seguindo-me de volta ao interior da casa.
“Se
a intenção era me enlouquecer você conseguiu Taylor, agora desaparece” falei buscando
algo para vestir já no quarto.
“Também
fiquei louco em alguns momentos se serve de consolo”.
“Não
serve!” bradei.
“É
uma pena” reclamou.
“Você
continua me fazendo voltar ao passado” admiti.
“E
o que o passado tem lhe mostrado?”
“Tem
me lembrado que amar você é uma luta constante e estou farta dela” desabafei.
“Está
dizendo que ainda me ama Sally?” perguntou se fingindo surpreso.
“Pouco
importa isso agora”. Esclareci.
“Você
não precisa dizer nada Sally. Não espero declarações de amor depois de tudo que
fiz”.
“Que
bom que admite, mas não faz diferença mais”.
“Sim,
faz, para mim faz uma vez que eu preciso que entenda o que eu quero com tudo
isso”.
“Entender?
Eu já entendi há muito tempo. Toda essa encenação dos últimos dias não passa de
uma luta machista para provar que você tem poder sobre mim”.
“É
isso que você acha? Sally pelo visto você não me conhece amor. Preciso
esclarecer as coisas aqui de uma vez por todas”.
“Esclarecer?
Entre os esclarecimentos estou curiosa para saber por que uma noite como
lembrança foi um erro já foi ideia sua”.
“Foi
um erro porque eu não poderia ter feito aquilo com você, mas só depois de
acordar sem você percebi que eu preciso de você sempre”.
“Não
foi o que percebi”.
“Fala
sobre minha resistência por toda a noite? Quer saber por que não transei com
você Sally? Okay, vou lhe dizer. Não o fiz porque reconheço que você merece
mais. Você se sentiu um lixo quando tudo acabou no quarto azul e não tente
negar. Como pôde ceder depois de tudo?”.
“Eu
cedi porque amava você Taylor, foi só por isso”.
“E
eu não cedi hoje porque eu te amo Sally. Eu acho que você merece mais que sexo
sem compromisso e quero oferecer isso a você”.
“Taylor
serei franca com você. Eu não sei se eu quero. É tarde demais. Agora eu não
posso me envolver em um relacionamento”.
“Fala
isso por causa do contrato?” ele perguntou pouco surpreso.
“Uma
parte pelo contrato e outra parte por tudo que você fez”.
“Eu
não posso mudar minhas ações passadas Sally, mas posso ser quem você precisa
nesse momento”.
“Nesse
momento?” perguntei sem forças.
“Sim.
Você está em um namoro publicitário e eu também.”.
“Com
quem?” perguntei enciumada.
“Marie
Avgeropoulos, sabe quem é?”
“Não
sei quem é, nem quero saber e tenho raiva de quem sabe”.
“Eu
também não fico confortável com esse tipo de contrato Sally”.
“Eu
não me importo. Não pretendo me envolver com ninguém, então para mim não faz
diferença” falei simplesmente.
“Isso
é culpa minha Sally. Esse seu temor, a forma como se fechou, mas saiba que
estou disposto a mudar. Fui um verdadeiro filho da puta quando lhe deixei sair
do hotel Mondrian em 2012 e depois senti nojo de mim mesmo por abandoná-la
daquela forma no Brasil, foram tantos erros, eu sei que foram muitos”.
“Você
foi cruel” admiti.
“Eu
reconheço que fui tudo de pior que um homem pode ser para uma mulher, mas estou
diante de você para pedir perdão. Sei que meu discurso muitas vezes é
cansativo, eu juro Sally, apenas uma chance é o que peço”.
“Quer
uma chance?” perguntei com lágrimas nos olhos.
“Eu
não quero seu amor por um momento” falou igualmente emocionado ressurgindo das
cinzas o homem que eu amava.
“Eu
não sei o que dizer” Revelei.
“Estou
cansado de lhe abandonar Sally, estou cansado de lhe causar dor, por isso eu
não quis continuar te ferindo para minha satisfação. Quero fazê-la feliz
continuamente, não por um momento”.
“Permaneço
sem ter o que dizer”.
“Então
não diga meu amor. Os argumentos hoje serão meus. Eu não quero transar com você
e sair como se não soubesse amanhã ou sem saber se haverá uma próxima vez.
Quero curtir você, sua presença. Eu quero mimar você e te recompensar todos os
dias pelo crápula que fui” falou com uma pequena lágrima surgindo em seus
olhos.
“Eu
esperei tanto por isso” me entreguei às lágrimas.
“Eu
quero fazer amor com você e não sexo. Quero te levar café na cama, adormecer e
acordar junto durante a tarde. Quero poder sentir seu cheiro de madruga e estou
disposto a tudo”.
“Eu
não consigo acreditar em você Taylor. Por que parece tão difícil?”
“Porque
eu tenho sido confuso e peço perdão por isso também. Pretendo abdicar de tudo
que nos afasta caso seja necessário Sally, mas eu não vou mais nos sacrificar”.
“Existe
grandes abismos entre nós e você sabe disso. Há muito a ser superado aqui
Taylor”.
“Eu
vou tentar facilitar a sua superação Sally, vou lhe mostrar com o tempo o
quanto eu te amo. Sei o quanto errei e por isso irei batalhar para colocar fim
a cada dor que te causei”.
“Talvez
essa batalha nunca tenha fim. Tenha isso em mente”.
“Que
seja. Será uma busca diária, mas eu não tenho medo. Só não quero acordar um só
dia sabendo que você não é feliz”.
“Você
ferrou comigo Taylor! Você estragou meu relacionamento com Ashton como se rasga
um pedaço de papel”.
“Eu
ferrei meu amor. Ferrei você, ferrei Ashton, Ashley e me ferrei, mas eu quero
lhe recompensar. Eu quero fazer isso”.
“Não
me chama de amor, por favor,” pedi chorando ainda mais.
“É
o que você é e sempre será. Você é meu amor, meu grande amor e nunca se esqueça
disso. Aconteça o que acontecer Sally, nunca duvide do quanto eu te amo. Nem
por um momento”.
“Eu
não sei Taylor”.
“Eu
espero até você saber querida. Eu espero sua resposta. Espero sua decisão.
Espero o quanto for necessário. Eu sei que não mereço, mas se puder considerar
uma nova chance. Fica comigo?”.
“Como
lidaremos com tudo isso Taylor?”
“Não
sei. Podemos encarar e ver o que acontece”.
“Eu
senti tanta raiva de você e por diversas vezes que pensei que meu amor tinha se
transformado em ódio”
“Eu
mereço seu ódio Sally. Eu cultivei isso em você. Você me deu sua pureza e
inocência e eu joguei fora. Eu sinto tanto que tenha feito tudo errado.”.
“Eu
não consigo lhe corresponder tão repentinamente. Preciso trabalhar isso em mim”
avisei.
“Eu
fiz uma bagunça, eu sei. Quero organizar agora”.
“Será
um longo caminho, porque você perdeu minha confiança”.
“Leva
muito tempo para construir confiança e apenas segundos para destruí-la”. Taylor
citou comovido.
“Eu
amo Shakespeare, isso é golpe baixo” falei abraçando-o.
“Querida.
Respire fundo. Porque eu vou pegar pesado” encerrou encostando seus lábios nos
meus com a maior intensidade que eu já havia sentido desde o primeiro beijo. Se
algum dia ele havia me amado, agora me amava ainda mais, talvez bem mais do que
eu poderia imaginar.
¹Just
give me a reason - Música da Pink
²Pink
– Que canta a música ¹Just give me a reason
³break
- Breakdance (também conhecido como break em alguns lugares) é um estilo de
dança de rua, parte da cultura do Hip-Hop criada por afro-americanos e latinos
na década de 1970 em Nova Iorque, Estados Unidos.
4Look after you – Banda The fray

