Capa: Jéssica Keli
Texto/Fanfic: @ValzinhaBarreto
Formatação/Ilustrações/Gifs: Robson Basílio
Beta: Eduarda Mautner.
Musica tema: Closer - Glee
Quando desembarquei no LAX, senti todos os meus anseios
gritando ao mesmo tempo. Anseios esses que invadiam meu cérebro, como se eu já
não soubesse o óbvio, como se fosse necessário que meu consciente me lembrasse
que eu estava muito perto dele, como se eu não pensasse nele a cada segundo
independentemente da distancia...
Ashton fez muito por mim ao conseguir agenciar um ensaio sem
que eu fosse modelo de verdade, e eu nunca poderia pagá-lo por isso. Ao entrar
na recepção sentir um aperto gélido no meu coração.
- Olá, Bom dia, tudo bem?
- Sim! Bom dia! Tudo e com você? – Respondeu a recepcionista.
- Tudo certo. – Respondi de volta!
- Você tem hora marcada? – Perguntou a recepcionista pegando a agenda
- Sim! Tenho uma reunião com Eduarda Morais.
- Certo. Só um instante que vou ver se ela pode atender você.
A recepcionista comunicou minha presença e pediu-me que
aguardasse uns 5 minutos, eu fiquei ainda mais nervosa, após se passarem 15
minutos além dos 5 que ela me pediu, seria isso um sinal? Todas as inseguranças
eram gritantes no meu ouvido aumentando ainda mais meu medo de que ela não quisesse
nem sequer falar comigo. Minha ansiedade era tamanha que a recepcionista
perguntou se eu não gostaria de beber água, suco, ou qualquer outra coisa, mas
nada desceria na minha garganta face ao desespero que havia tomado conta de mim
naquele momento.
Eu ouvi alguns passos de salto alto muito fino vindos do
corredor do lado esquerdo, a recepcionista se pôs de pé imediatamente, o que me
fez repetir sua ação. Era ela, a poderosa herdeira da Agência, tinha cerca de
1,68 m de altura, uma postura de modelo profissional, era muito sofisticada,
com 52 kg e curvas muito sensuais, seus cabelos loiros como os raios de sol
invadiam o saguão da recepção antes dela, eram fios semelhantes ao ouro, não
muito compridos, mas tão sedosos e com algumas mechas caindo sobre um dos olhos
verdes invejáveis. Com um ar de rainha, tremi às bases do meu ser ao me deparar
com tamanha perfeição, era tão linda que sua beleza me ofuscava, e isso se
concretizou quando ela abriu um sorriso e veio ao meu encontro.

- Olá... Bom dia? Sou Eduarda Morais, é um prazer encontrá-la. Por favor, me acompanhe até minha sala.
- Olá. Sou Sally Tedesco. É um prazer e uma honra estar diante de você.
- Obrigada, querida.
- Vamos ao que interessa! Você já fez algum ensaio, desfile, posou para uma revista? Fale-me sobre o que você sabe fazer.
- Eu nunca fiz nenhum ensaio profissional, nem participei de nenhum desfile, tão pouco posei para alguma revista famosa, mas estou terminando meu curso de modelagem e sinto que estou apta para qualquer sessão que você possa me disponibilizar.
- Então você não tem experiência alguma?
- Não, mas tenho grande facilidade de aprendizagem e força de vontade. Darei o melhor de mim em favor da sua agencia.
- Espero que sim. Você foi recomendada por Ashton Kutcher, ele trabalhou com a minha mãe antes de atuar...
- Ele comentou sobre a época em que era modelo. Tenho certeza de que deve ter sido uma experiência incrível tal qual desejo que seja a nossa.
- Hum... Seu inglês é ótimo Sally. Andou treinando?
- Tenho contato constantemente com o idioma mesmo morando no Brasil, e nos últimos meses andei interagindo, como vou me mudar para Los Angeles estou me socializando com o idioma.
- Pretende deixar seu país e se mudar para Los Angeles?
- Sim... Eu vou me mudar... Estou certa de que minha vida é aqui e não no Brasil.
- Seu país é muito bonito. Tenho muita vontade de conhecer.
- Sim... É realmente incrível, rico, bonito e abundante.
- É... Faremos o seguinte Sally. Você não tem experiência, mas é muito bonita e ainda foi indicada por Ashton, e não posso ignorar o pedido de uma pessoa como ele. Amanhã, iniciaremos o ensaio e assim que você estiver pronta faremos a sessão de fotos.
- Nossa. Agradeço muito. Nem tenho palavras.
- Isso é bom. Você tem disponibilidade para ficar em Los Angeles até quando?
- Sinceramente não sei, mas fico o tempo necessário para terminar as fotos.
- Você é bem compromissada e isso é muito positivo. Esteja aqui amanhã às 9 horas que irei apresentar você e as demais modelos que estão selecionadas, nosso fotografo vai fazer alguns testes com você amanhã.
- Obrigada, obrigada, muiiiiito obrigada. Estarei aqui.
Sai da agencia totalmente hipnotizada com Eduarda, me sentia
feliz pela oportunidade, eu estava muito elétrica e ao invés de voltar ao
Hotel, peguei um taxi e resolvi conhecer algum lugar de Los Angeles, não
resisti e entrei para conhecer o Farmer’s Market, um Mercado Municipal Tradicional
com uma farta praça de alimentação com comidas de todos os tipos e de vários os
lugares do mundo, inclusive do Brasil, eu não queria comer comida brasileira,
na verdade, apenas olhei, estava muito agitada para conseguir comer...
Desejei visitar o Farmer’s Market com o Taylor, tenho certeza
que ele acha esse lugar muito especial, apesar de não ser muito turístico, é
mais frequentado pelos locais mesmo, o que deixaria Taylor ainda mais a vontade
do que ir a restaurantes frequentados por celebridades. Esse mercado, não é um daqueles que de tão
famosos já são evidentes, olhei o ambiente muito superficialmente, mas já pude
descobrir um pouco mais sobre a cultura local dos moradores de Los Angeles e
também do Taylor que mesmo não sendo nascido na cidade, já morava há algum
tempo lá.
Meus pensamentos no Taylor e em como eu gostaria de visitar o
local com ele me deram ânsia, não sei se foi o clima, o cansaço da viagem, ou a
expectativa da reunião com a Ford Models, mas resolvi voltar ao hotel e
descansar um pouco, afinal deveria estar com semblante descansado para a
maquiagem no dia seguinte.
Tomei um banho e adormeci profundamente acordando apenas no
inicio da noite, então sai da suíte e procurei algo para comer no restaurante
que não era tão luxuoso, assim como o Hotel em si. Eu não precisava de nada
espalhafatoso, nem podia já que o custo de aluguel em Los Angeles é muito caro,
e não tinha a ajuda da minha família, exceto pelo dinheiro da venda do carro
que Taylor havia me dado.
Comi uma salada, peguei meu Ipod e fui dar uma volta pela
calçada e pensar um pouco, sentei em um banco, e fiquei refletindo sobre tudo o
que havia acontecido até ali, pensei na Comic-con, no Teen Choice Awards, no
tempo que passamos no Hotel, na casa da Aléxia, pensei sobre todas as vezes que
ele me disse eu te amo, e percebi que seu abandono deixava tudo o que vivemos
juntos falso, e insignificante...
Lágrimas desciam pelo meu rosto enquanto eu pensava na forma
como fracassei em conquistar o homem da minha vida, como eu pude perder a
chance de tê-lo sempre comigo? O que eu havia feito de errado? Eu não o amei o
suficiente, eu não dei o melhor de mim? Os nossos momentos juntos não
significaram para ele o mesmo que representaram para mim? Meu beijo não era bom
o bastante para que ele ainda quisesse outros lábios? Aquela química física
entre nossos corpos não o impedia de desejar outros corpos? Por ventura a
maneira como eu fazia amor com ele ainda não fora capaz de satisfazer seus
desejos? Ele queria mais?
Eu me culpava por tudo, pelo fim, pela despedida, pelos
beijos que eu não daria, pelos abraços que desperdicei pelas noites quentes e
por todos os momentos que agora nada eram senão meros sonhos de alguém que
outrora teve tudo, e que agora eram apenas lembranças de um amor vivido. Eu não
era boa o suficiente para ele, e talvez nunca seria, e essa incerteza me fazia
chorar constantemente...
Voltei ao Hotel e depois de muita briga comigo consegui
dormir, mas acordei muito cedo por causa da ansiedade, no entanto consegui
aguentei ate a hora marcada para não parecer desesperada. Ao chegar procurei o
lugar onde havia sentado no dia anterior, mas ele estava ocupado e perdi o
fôlego ao ver a maneira doce com que o que o ocupante me olhava.
Seu olhar era o de quem observava a pessoa mais especial da
sua vida, havia muita singeleza ao ponto de me deixar totalmente paralisada com
seu sorriso gentil que acabava de assumir o poder de me acalmar, como se
soubesse de todo o drama que eu estava sentido, como se pudesse me confortar,
como se pudesse me curar da doença que sugava a alegria da minha vida...

Parada ali,
sob o olhar especulativo da recepcionista não consegui exibir nenhuma ação
diante da situação, a não ser a de admiração ao seu visual tão elegante e
supremo, avistei seus cabelos castanhos, lisos e perfeitamente combinados à sua
face serena, estavam cumpridos entre as orelhas e o ombro, a barba estava
grande e adornada ao seu tão charmoso bigode ralo e elementar... Seus lábios
tão rosados, tímidos e emoldurados me causaram um desejo de beijá-los que antes
eu não conhecia...
- Vocês se conhecem? – Perguntou a recepcionista após a longa troca de olhares e nenhuma emissão de palavras.
- Sim... Conhecemo-nos há muito tempo. – Confirmou Ashton.
- Senhor Kutcher, desejas alguma coisa, água, suco, café?
Ashton olhando-me da cabeça aos pés, esboçou em sua face um sorriso bobo e respondeu:
- Não... Obrigada... Nesse momento tenho tudo que eu preciso!
Implorei a todos os anjos
que devolvessem o meu fôlego, as minhas palavras, e o domínio do próprio corpo
que perdi ao encontrar Ashton Kutcher, e perguntei finalmente:
- Olaaaaaaaaaa! O que faz aqui?
Perguntei conseguindo emitir o som das palavras que haviam desaparecido ao deparar-me com o reencontro inesperado.
- Eu não poderia perder sua estréia.
- Você estava em París quando nos falamos pela última vez e agora está aqui!!
- Parece estar feliz em me ver Sally. Que bom que não sou só eu.
- Estou muito feliz sim... É bom ver um rosto amigo. – Disse observando sua fisionomia entristecida pelo “amigo”.
- Estou esperando você dizer As palavras Sally!
- Quais? – Perguntei ingenuamente.
- Aquelas palavras que vem juntas com aquela palavra que só existe no Brasil.
- Aquela que descreve a mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor?
- Essa mesmo...
- Aquela palavra que aqui vocês entendem como “sentir falta”?
- É Sally! S - A - U- D -A - D - E! – Soletrou ele brincando e
finalmente me abraçou fazendo-me sentir uma sensação que há muito tempo não
sentia, era bom estar envolta aos seus braços, sentir seu cheiro suave, tudo me
fez não querer nunca mais soltá-lo, mas o que era para ser um longo abraço foi
interrompido com a chegada de Eduarda Morais, colocando ao fim o único momento
de paz que meu coração havia sentido há meses, eu tinha tanto para agradecer,
fiquei triste que ele se fosse antes que eu dissesse-lhe algo, mas Ashton não
foi embora como eu conjeturava, ele ficou comigo durante todo o ensaio, mas só
fizemos uma sessão de fotos, e ficamos de continuar no outro dia.
- Vamos dar uma volta? - Perguntou Ashton depois que o ensaio chegou ao fim.
- Claro! - Concordei.
- Aonde quer ir?
- Ontem olhei um pouco do Farmer’s Market, mas não comi nada, mas gostaria de ir com você.
- Próxima parada: Farmer’s Market!!! – Brincou Ashton com uma voz engraçada.
Eu e Ashton passeamos pelo
Farmer’s Market, e fiquei encantada com novo lugar onde eu moraria em breve, vi
tantas comidas, várias lojinhas de produtos naturais, de presentes, de acessórios,
e até uma livraria Taschen!
Eu e Ashton andamos em um
trolley, uma espécie de bondinho que passa pelo Farmer’s Market e vai até o fim
da rua principal, onde fica o shopping The Grove, aquele shopping tipicamente
americano, ao ar livre, com um jardim aprimorado e calçadas perfeitas. Além da
variedade legal de lojas, Anthropologie, Apple, Barneys, Forever XXI, Kiehl’s,
MAC, Nordstrom, e Topshop! Vi um cinema
e não pude deixar de pensar no Taylor.
Fique surpresa com a
gentileza do Ashton quando ele comprou para mim um iogurte com granola e pediu
que fossem cortadas várias frutas e colocadas dentro... Seu jeito tão atencioso
despertou um sentimento que eu nunca havia sentido, mas a dor ainda estava lá,
nem menor, nem maior, mas de tamanho substancial... Ele estava de carro, me
levou de volta ao Hotel e no caminho pensei em como as coisas haviam mudado na
minha vida e principalmente em como meus sentimentos por Ashton haviam
mudado...
Eu não entendia o porquê do
meu coração bater tão descompassado ante a cada ação que Ashton perpetrava, eu
sentia vontade de abraçá-lo, e quando ele encostava-se em mim mesmo sem querer,
eu almejada que continuasse, eu sentia uma necessidade, uma carência, uma força
que me puxava, que me atraia, eu não entendia, mas eu sentia um desejo que me
consumia... Não sei fora toda a dor que Taylor deixou ou a vulnerabilidade em
que eu me encontrava no momento, mas mesmo com toda minha relutância, senti
naquele instante que ninguém é feliz tendo amado somente uma vez.