Desejei
ouvir a musica do quarto dia, mas perdi a hora e sai em direção à agência para
encontrar Kevin para uma reunião de emergência. Sua voz do outro lado da linha
parecia afoita, mas ao chegar me alegrei, era uma boa notícia. Eu havia sido
confirmada para o musical os Miseráveis finalmente. Eu iria dali a um mês para
Nova York me apresentar nesse espetáculo da Broadway.
Kevin
disse que cumpriríamos nossa agenda em Los Angeles nos dez dias seguintes e que
após isso, eu deveria sair de férias à Paris que eu tanto desejava visitar e
rever meus pais e meus amigos no Brasil. Isso deveria ser feito antes de
começar o filme com Channing e o espetáculo, ambos em Nova York.
Ao
chegar em casa, me perguntava qual seria
a faixa quatro do CD, mas antes que pudesse tocar no aparelho de som,
meus olhos percorreram por cima da cama ao notar uma caixa quadrada e fina
coberta por um aveludado vermelho. Taylor havia enviado algo novamente. O que poderia ser? Questionava-me antes de
abri-la.
Abri
verificando o que tinha em seu interior me surpreendendo com o que havia. Fechei
a caixa desacreditada e abri novamente. Tratava-se de um valioso colar em outro
maciço, tinha um aspecto dourado, brilhante e combinava com o design da joia,
nunca vi nada igual, possuía uma estrela com pequenos diamantes em cada ponta. Em
seu interior havia uma cavidade vazia de uma estrela menor e na parte traseira
tinha uma inscrição muito pequena que dizia “³And it was called Yellow”, esse
trecho eu reconheceria a qualquer custo, era a música Yellow, Coldplay, falava
sobre nessa cor, sobre uma canção que havia sido chamada de amarela.
Recordei-me do momento que passamos
juntos, de quando a ouvimos, e do quanto fiquei satisfeita quando ele disse que
também gostava da voz de Chris Martin.
Enquanto a musica tocava eu imaginava o
convite que ele me havia feito aquele dia“Quer tomar banho na chuva
comigo? Me lembro de ouvi-lo perguntar.
Enquanto revivia em pensamento a
sensação dele me puxando pela mão em direção ao exterior do hotel, recordei de
sua mão me guiando até aquele pequeno jardim. Por
um instante senti o frio como naquele dia quando os primeiros pingos gelados
caíram em meu corpo. As suas palavras românticas ditas naquela ocasião vagavam
pela minha mente deixando-me pesarosa.
Quando ele me disse que se pudesse ser
a chuva não cairia tão fria eu senti que suas palavras ainda estavam guardada
em uma parte de mim, íntima e oculta para evadir angústias remotas.
Naquela ocasião Taylor e eu nos
preparávamos para nosso primeiro adeus, meu coração bateu mais lento quando
recordei da forma dolorosa como ele disse “Amanhã a essa hora sei o quanto você
estará longe, mas quando a chuva cair eu sempre vou te sentir”, ouvi minha
mente trazendo a tona como uma promessa que ele havia feito, todavia não sabia
se ele de fato me sentia sempre que a chuva caía.
Eu não me lembrava mais dessas suas
palavras até aquele momento.
Por
todo o dia tentei entender Taylor, tirei o colar da caixa e coloquei em meu
pescoço visualizando no espelho, ele parecia ter sido feito sob medida pra mim.
Porque
Taylor mantinha a distancia? No mínimo ele fazia com que minha postura me
derretesse em dúvidas, devido seu comportamento. Ele não buscava aproximação?
Adormeci com a dúvida na cabeça e a caixa
aveludada em mãos.
“Deve ser difícil ver tudo
chegando ao fim” me lembrei de ouvi-lo dizer na nossa
última noite em Los Angeles, as lembranças estavam mais presentes, a música do
dia, trazia o cenário novamente ao som de Fix You, mais um dia de Coldplay.
Aléxia
terminava de colocar o almoço à mesa. Eu permanecia zangada porque não entendia
o que Taylor fazia.
Se ele queria voltar porque não aparecia e me
dizia isso olhando em minha face? Porque não me encarava com suas desculpas?
Ouvi
uma batida na porta, enervei, será que agora ele havia mandado o almoço? Perguntava-me
correndo para atender a porta, mas não havia entregador, era o próprio.
Taylor
nada disse, apenas ficou parado na porta com os olhos no colar que ele havia me
dado, pareceu feliz por me ver usar. Ele também tinha uma estrela, só que
menor. Ele deu um passo à frente e pegando o pingente do meu colar, passou seus
dedos sobre a estrela e pegando a sua colocou uma dentro da outra, meu pingente
com e estrela maior tinha uma cavidade em que a sua estrela, menor se encaixava
na minha. Eu não havia pensado nisso, era um colar duplo, algo para nós dois.
Enquanto
eu observava os colares unidos, ele aproveitando-se da minha distração me puxou
para fora da casa me empurrando na lateral da porta, contra a parede e me
beijou. Lutei, até que ele me soltou. Ouvi uma gargalhada, Nícolas ressurgia da
sua crise ao ver o meu duelo e o beijo roubado.
“Woow,
Taylor Lautner, desse jeito você enfraquece a amizade!” falou Nicolas olhando
em seguida para Aléxia que sorriu, não por mim ou pelo Taylor, mas pela
ressureição de Lázaro. O seu amado havia saído da depressão?
“Por
que enfraquece?” perguntou Taylor entrando na casa e cumprimentando enquanto eu
recuperava o ar que o beijo havia me tirado vendo-o com um vista certeira.
“Enfraquece
a amizade enfiando sua língua na garganta da minha irmã dessa forma. Tem que
rolar um drink antes” falou zombando.
“Desculpe”
pediu sorrindo.
“Estou
brincando cunhado. Você chegou na hora certa, Aléxia fez lasanha, você gosta?”.
“Adoro”
afirmou sentando-se à mesa com o cinismo do Nícolas. Era contagioso?
“Novidades?”
perguntou Nícolas.
“Nenhuma
e você?” Taylor perguntou.
“Tenho
uma sim. Daqui a alguns dias eu vou sair na Oprah” Nícolas revelou.
“Ah,
ela é ótima” Taylor deixou claro já que a conhecia.
“Você
verá Aléxia cantar. É imperdível. Fizemos um documentário para um programa
especial sobre a Sally. Cantamos juntos como nos velhos tempos” falou Nícolas
tirando um enorme pedaço de Lasanha enquanto Taylor arregalou os olhos
desconhecendo seu apetite.
“Oh,
boy. Você não é humano” comentou.
“Que
delícia. Está perfeita como sempre” Nícolas elogiou.
“Não
vai comer?” perguntou Taylor me vendo apenas observando.
“Sim...
irei agora mesmo” falei inserindo o garfo.
“Que
coisa preta é essa aqui?” perguntou Nícolas apontando uma ervilha escura.
“O
que?” perguntamos olhando dentro do prato.
“Um
carrapato. Tem um carrapato dentro da lasanha!”.
“Eca!”
disse Aléxia perdendo o apetite.
“Seu
nojento. Estamos no meio de uma refeição e você faz isso” falei largando o
prato enquanto ele gargalhava satisfeito.
“Me
dá um carrapato desse aí, parece suculento” Taylor falou inserindo o garfo na
ervilha no prato do Nícolas e colocando na boca.
“Nojentos!”
eu e Aléxia falamos colocando os pratos na pia.
Eles
se levantaram da mesa sorridentes como duas crianças.
“Posso
falar com você?” perguntou Taylor quebrando o gelo e superando o riso com a
história do carrapato.
“Quero
falar no seu quarto pode ser?” ele pediu.
“Tanto
faz” falei simplesmente.
Finalmente
ele tentaria me beijar novamente e eu lhe diria o que estava engasgado, ele
pensou que me tinha em mãos, mas eu não iria ceder. Ele não sabia o que o
esperava.
“Como
vai a carreira?” perguntou disfarçando o assunto.
“Vai
muito bem, obrigada” respondi.
“Você
pode me devolver aquele pendrive? Tem umas fotos da Makena no torneio de vôlei
e ela está me cobrando”. Ele disse.
“Posso
sim” falei abrindo a gaveta e pegando. De fato havia mesmo fotos dela nos seus
arquivos.
“De
nada” agradeci em contrapartida.
“Até
mais” disse saindo do quarto me deixando parada como um poste, ele só podia
estar brincando. Depois do bilhete, as rosas, o CD, o colar, ele apenas
apareceu e foi embora sem nada dizer?
Intrigante. Imaginei vendo-o desaparecer porta
a fora. O que ele quis fazer com aquele beijo? O que ele queria afinal?
Nos
6º dia, a musica foi Please Forgive, Bryan Adams, seu toque me faziam lembrar
de quando ele foi até onde eu estava no Brasil, na casa da Aléxia. A voz do
Bryan me levou de volta as palavras que ele me disse no carro que havia me
presenteado. Repassei suas desculpas,
elas pareciam sinceras naquela época. “Eu fui o idiota Sally. Tenho sido desde que
nos conhecemos! Mas como eu disse, não é essa a lembrança que quero que tenha
de mim. Não quero que terminemos desse jeito” isso doeu em mim naquela ocasião
e agora pareciam ainda me afetar.
Eu
não sabia ao certo o que eu sentia, mas era a forma como aquelas palavras
saíram da sua boca voluntarias e cravadas de dor. Recordei dele admitindo seus
erros, ainda não era tão fadigoso ouvir suas desculpas, mas agora eu não
suportava mais.
A
maneira como os dias foram passando as músicas traziam a tona momento que
haviam sido marcantes para mim e pelo visto para ele também, quer fosse pela
musica Just a kiss de Lady Antebellum e todas as outras que havíamos ouvidos juntos
desde o primeiro encontro ou por todas as outras.
Não
sei o que ele queria. Quanto mais os dias passavam, mais intrigada eu ficava.
No último dia, e na última canção, senti um vazio tomando conta de mim quando a
música falhou, parecia não ter áudio. Senti raiva por isso, mas não me
entreguei sequer por um momento. Deitei na cama e fiquei confusa pensando em
todas as possibilidades até que Aléxia bateu na porta do meu quarto.
“Ajude-me
amiga?” pediu ela.
“Claro,
com o que?” perguntei.
“Nícolas
quer que eu acompanhe em um jantar hoje à noite com um cara que ele diz ser
agente dele” ela falou sorrindo.
“Nícolas
tem um agente?” perguntei assustada.
“Parece
que o documentário da Oprah foi bem proveitoso para ele” respondeu Aléxia.
“Sim...
Quero que me ajude a escolher” explicou Aléxia.
“Okay,
vamos ao shopping.” Falei empolgada pegando minha bolsa e passando por Nícolas
que deu uma piscada descarada para Aléxia antes de ela sair pela porta.
Chegamos
ao shopping, escolhemos um belo vestido, um par de sapatos, bolsa e uma
corrente linda para que ela o acompanhasse na reunião com seu agente.
Era
estranho pensar nisso. Nícolas seguiria uma carreira? Aliás, seguiria a
carreira dos seus sonhos finalmente?
Antes
que saíssemos Nícolas apareceu na loja, estranhei ele saber onde estávamos, mas
ela poderia ter enviado um torpedo sem que eu visse.
“Aléxia,
eu vi a hora errada da reunião, temos que ir, vista o vestido no provador e
vamos daqui mesmo” ele falou apressado.
“Como
você faz isso? No seu primeiro dia de reunião vai chegar atrasado? Porque não
me disse nada?” perguntei chateada.
“Depois
eu te explico maninha” disse me dando um beijo no rosto e arrastando Aléxia
para o provador da boutique saindo em dois um minutos.
“Esse
vestido é um presente” ela disse me dando um embrulho antes de sair. Eu o
adorei, moderno e elegante, ela o pagou antes de sair. Apenas peguei e voltei
para casa. A porta estava encostada, temi.
Nícolas
a havia deixado encostada ao sair às pressas?
A
sala estava um pouco escura, com poucos cômodos iluminados. Ouvi um estalar de
um isqueiro, estremeci. Duas velas foram acesas quando concebi a imagem do
Taylor vestindo um smoking elegante e vindo em minha direção.
Ele
se aproximou pegando o pacote das minhas mãos tirando o vestido de festa. Com
um olhar enigmático. Ele tocou meus ombros tranquilamente descendo as alças do
meu vestido curto e baixando até que ele caísse ao chão.
Ao
fim, em posse do novo vestido, vestiu-o em mim sem qualquer toque suspeito,
apenas me ajudou a vesti-lo.
Guiando-me até a mesa, abriu o menu do jantar
e fez o meu prato enchendo nossas taças de vinho.
Não
havia um sorriso sequer em sua face. Permanecia sério. Ele agia tão
delicadamente como se houvesse ensaiado para aquilo.
“Por
favor, coma” incentivou.
Tentei
comer, mas eu estava tão intrigada e em choque com a forma como fui trapaceada
por ele, Nícolas e Aléxia que me perguntei como não percebi a farsa antes.
“O
que você quer com tudo isso?” perguntei.
“Não
quero nada que você não queira” respondeu vagamente.
“O
que pensa que está fazendo?” indaguei enfastiada.
“O
que precisa ser feito” disse evasivamente me irritando.
“Você
não pode fazer isso comigo. Armar isso tudo achando que vou me render a sua
produção toda. Quem pensa que sou Taylor?” bradei.
“Eu
não fiz nada Sally. Só penso as melhores coisas sobre você. Apenas quero lhe
fazer uma pergunta” ele disse se levantando da cadeira e me puxando.
“Qual
a música nº 11?” ele perguntou.
“Você
gravou errado ou deu algum problema, ela toca, mas não ouço nada”.
“Eu
não gravei errado amor. Eu apenas guardei para ouvirmos juntos” revelou ligando
o aparelho de som e me puxando para dançar.
Ele
me abraçou apertado quando começou a tocar Just give me a reason, da Pink.
Sensualmente ele me guiava pela sala dançando seguindo ritmo da música. Taylor
beijou meu pescoço arrepiando os pêlos dos meus braços e sussurrou ao meu
ouvido “Promessa cumprida” e me rodou enquanto dançávamos sequentemente.
“Que
promessa?” perguntei não entendendo o comentário.
“Arrepiarei
os pelos do seu braço... Te ensinarei a dançar...” falou beijando-me de tal
forma que mesmo me debatendo não pude evitar.
(¹ “Mais coisas
serão reveladas, não me esqueça, arrepiarei os pelos do seu braço... Te
ensinarei a dançar...” (Green Eyes –
Coldplay – Capítulo dez: 24 horas de amor – 1ª parte .
(² Patience – Música de Guns Roses).
(³Felipe Neto – Ator, vlogueiro boca suja que
ganhou fama após vídeos em uma serie no You Tube criticando assuntos da era
moderna, o culto ao “eu” e as modinhas adolescentes, bandas coloridas, ídolos
tens, etc).
(4 “And it was called Yellow” “E foi chamada de "amarela” – Frase da música, yellow,
Coldplay).