No primeiro dia no set de filmagens eu
constatei finalmente o quanto seria difícil minha personagem. Muito drama e
romance, muitos adeus, idas e vindas, o roteiro me impressionava quando eu
notava os traços semelhantes com minha vida real.
Ainda
que eu tivesse muita dificuldade em interpretar um personagem de drama,
Channing parecia ter sido feito para aquilo.
Será
que é isso que a experiência faz com os atores? Será que com o tempo ser outras
pessoas é tão simples?
Isso
explica a facilidade com que disseminam meias verdades e fazem com que
acreditemos. Era sempre assim, Taylor sempre me vinha em mente, a maioria das
vezes, somente com lembranças ruins.
Infelizmente
não havia muitas saídas para mim e começando, eu não sabia muitas técnicas e
minha obsessão em seguir o roteiro preocupava um pouco Channing.
Vendo
todo meu empenho em fazer tudo como estava no script, o diretor sugeriu que eu
deixasse a cena fluir. Assim, mesmo quando eu trocava algumas palavras, ele
considerava.
Era
como se a espontaneidade que eu usava, desse um tom mais real as cenas. O
diretor havia gostado da forma que havia encontrado de conduzir as filmagens.
Envolvida
pela emoção das cenas, disse as falas
simples e apenas esbocei reações nas mais difíceis. O diretor, contudo, não
esperava por um roteiro quase sem falas, mas constatou que isso faria do filme
um romance longe dos clichês e das palavras doces dos romances modernos.
A parte que mais me preocupava, porém
não era atuar no set interpretando a personagem, e sim interpretar eu mesma ao
fazer o que não era agradável para mim enquanto pessoa.
Fingir uma situação era algo que estava
pesando. Talvez por tudo significar um passo tão errado a ser dado.
Atuar com Channing era bom, eu colhia
dele o máximo que podia para aprender, mas quando chegou a hora do nosso
romance publicitário me senti incomodada.
“E então, aonde vamos?” Perguntei a
Channing.
“Onde tem mais movimentação.
Precisamos ser vistos e fotografados juntos, me dê sua mão”. Disse ele enquanto
saíamos pela grade de proteção do set de filmagens.
“Estou nervosa. Eu realmente não sei
como lidar com isso”.
“Avisou a sua família? Aos seus
amigos?” Ele perguntou.
“Sim, mas isso é mentira”.
“Eu sei que é, mas é assim que funciona
aqui Sally”.
“Okay, sei o que é o ¹PR”. Concordei
cedendo e entrelaçando minha mão na dele.
Channing sorriu por um momento.
Estar perto dele me lembrou de quando
andava com Ashton. Porque Ashton
me veio à memória agora?
Estranho.
“Você é comprometida, não é?” Perguntou
Channing curioso.
“Não sou. É que eu não acho muito
honesto esse marketing”.
“Eu também não, mas não vai ser ruim
ser ligado a você”. Channing disse
fazendo-me esboçar um meio sorriso.
Meu emocional estava um caos e eu
estava mais estranha que o normal.
Revoltada com os homens?
Não sabia ao certo definir meus
sentimentos naquele momento, contudo, minhas emoções unidas ao rancor do meu
coração ferido, não me deixou cega ao ponto de não ver o homem interessante que
Channing era.
Ele sempre abria um sorriso enigmático,
parecia feliz, era notória sua simpatia por mim, além de estar sendo um grande
amigo durante o tempo que passamos no set.
Ele sempre puxava assunto, me levava
até a porta do trailer e se despedia com uma doçura de quem sequer queria ir
embora.
Channing parecia feliz com minha
presença, o que me preocupou aquela altura. Cumprimos nosso PR em Nova York,
fomos à loja da M&M'S na Time Square de mãos dadas, obviamente estávamos
sendo seguidos, mas fingimos não perceber os paparazzis.
Channing havia me levado a um lugar
incrível e nos momentos que estávamos dentro da loja, senti uma paz que há
muito tempo não sentia. Ele fez com que me sentisse em uma verdadeira fábrica
de chocolates.
Nossa agência achou conveniente que
fossemos juntos ao MMA, eu não tinha companhia e ele havia sido tão atencioso
que aceitei ir com ele à premiação.
Um torpedo do Nícolas chegou ao meu
celular, eu abri, eram as fotos dos três casais que prometiam em Hollywood,
Ryan Gosling e Eva Mendes, Sally Tedesco e Channing Tatum, e claro, Taylor
Lautner e Marie Avgeropoulos.
Nícolas começava a mostrar sua
preocupação com Channing ou não lhe agradava que Taylor fosse parte do passado.
Ignorar seus alertas me parecera certo.
Sequer cliquei no link enviado por ele,
coloquei meu Iphone em cima da mesa e me joguei na cama entre os travesseiros
do hotel e adormeci.
****
Eu estava muito cansada depois das
gravações e voltaria com Channing a Los Angeles em dois dias. Além da premiação que acabara de conseguir
companhia, eu não poderia sequer ficar perto do meu irmão, era demais para mim,
eu realmente estava disposta a me desligar do seu melhor amigo completamente.
Eram os últimos dias de filmagens e
ainda tínhamos que sair nos dias seguintes para sermos muito comentados nas
redes sociais e tabloides, era simples como funcionava o marketing, dois atores
juntos chamava mais atenção que apenas um e como éramos da mesma agência, isso
representava um bom negócio para todos.
Channing e eu passamos pela 1000 Fifth
Avenue de mãos dadas, rimos, tiramos fotos, havíamos nos tornado amigos e
aquilo já não parecia tão errado, nossa amizade não era falsa, era
espontânea e a companhia dele fazia eu
me sentir melhor.
Minhas saídas com Channing e a amizade
que havíamos construído havia deixado o PR tão real que até Alexia chegou a
duvidar de que éramos somente amigos, o público ansiava pela nossa paixão e a
julgar pela aparência, estavam certos de que os personagens dos livros que
interpretávamos seriam feitos com perfeição.
***
Dentro do avião, eu contava cada
segundo para descer no LAX, eu estava de volta a Los Angeles,
não só para a premiação do MMA, mas para casa, com Aléxia, Rob e Nícolas, isso
me dava uma felicidade instantânea. Minha família comigo, tê-los em Los Angeles
era o melhor presente que eu poderia ter.
Nícolas
havia ido me buscar no LAX e carregava uma placa com meu nome, o que só se faz
quando as pessoas não se conhecem.
“Meu
irmão é um idiota” Ri baixo.
Ele
estava feliz, mas fechou a cara quando visualizou Channing junto comigo.
Nícolas
não gostou, mas não foi rude.
“Armário
novo é?” Ele fez piada.
“O
que ele disse?”. Channing me perguntou confuso.
“Ignore-o,
assim como eu”. Aconselhei.
“Assim
como eu”. Nícolas me imitou com uma voz feminina e me abraçou.
Logo
avistamos o primeiro paparazzi do X17 online, fotos e vídeos da nossa chegada
em questão de minutos estariam até em Bagdá.
Nícolas
havia ido me buscar no carro que Taylor havia me dado, isso me irritou por um
breve momento, mas respirei fundo e entrei.
Channing
acenou e foi pelo outro lado do 4LAX, eu sabia
do nosso jantar, mas preferi nem pensar nele, só queria estar em casa com minha
família, com minha cama e minhas coisas.
Robson
e Nícolas estavam mais unidos do que nunca, e Alexia queria saber sobre
Channing e tudo que tinha acontecido em Nova York. Após o papo colocado em dia,
eu apenas adormeci ouvindo “Macy’s day parade”5,
o MMA me esperava no dia seguinte.
As
conversas durante o café da manhã nada mais eram que as aventuras do Nícolas e
Rob pelos bares de Los Angeles. Pela tarde, meu celular tocava, era Bia Roccon,
uma das mais brilhantes roteiristas da Broadway com os scripts da peça “Os
miseráveis” que eu faria logo após o MMA.
Alexia
e eu fomos a uma boutique no shopping de LA, comprei um lindo vestido azul
marinho, curto, de seda, era rodado e com um enorme decote, ao vestir meus seios
ficaram bem a mostra, estavam maiores ou o decote era realmente extravagante.
No
vestido, havia uma barra cinza, ficava um palmo acima do joelho, curto,
sensual, o tom azul tão forte deixava minha pele branca ainda mais realçada, mas
eu precisava usar aquilo apesar de achar muito chamativo, vulgar, não sei.
Alexia
me ajudou a prender os cabelos e Rob me deu uma bolsa de mão preto e branco que
havia trazido de Las Vegas para mim. Era interessante, mas eu sequer soube que
eles haviam estado lá até que ele me deu a bolsa de presente por meu retorno ao
lar.
Passei
pelo corredor em busca de uma tornozeleira no quarto de Alexia, mas parei em
frente ao quarto do Nícolas e fiquei tentando entender o que era aquela coisa
em cima da sua cama, parecia uma almofada com velcro, algo de vestir talvez,
mas deixei pra lá.
Channing
já sabia onde eu morava e veio me buscar para irmos juntos ao MMA. Seria toda a
sua elegância proposital? Ele usava um belo terno preto, estava charmoso e
muito animado para a premiação.
Permaneci
calada enquanto ele dirigia, eu estava nervosa, meio tonta, temia encontrar
quem eu não queria, mas faria de tudo para evitar o encontro.
Channing
e eu passeamos pelo red carpet e entramos. Alguns minutos depois indicaríamos as
categorias de melhor ator e atriz de série de TV para o casal membro de TVD6,
Ian e Nina. Diante deles, fiquei maravilhada, eram majestosos, tão perfeitos
fisicamente que pareciam surreais.
Nos
bastidores, vi Nícolas com Zac Efron, conversavam e riam como crianças. O que
estavam aprontando? Perguntei-me e antes que pudesse pensar em algo, 7Seth
MacFarlane saiu por detrás das cortinas com o objeto desconhecido que havia
estado em cima da cama do Nícolas.
Eles
o desenrolaram, mas ainda não conseguia entender o que era, nem para quem era
até ver o maldito aparecer sorridente com seus cabelos cobertos por um boné com
aba para trás e um copo nas mãos.
Ele
estendeu as mãos para cima enquanto Nícolas, Seth e Zac colocavam o objeto que
não era mais desconhecido, uma barriga falsa que Taylor usaria para receber o
prêmio de melhor performance sem camisa.
Nenhum
deles me viu, odiei vê-lo sorrindo enquanto me sentia tão nebulosa com seu
abandono.
Meu nome foi chamado
no palco, quando ele o ouviu seu semblante fechou rapidamente, era como se meu
nome pronunciado o houvesse encoberto por uma tristeza profunda.
Entrei
no palco e aguardei o retorno do intervalo que ainda demoraria até minha
entrada, eu só queria sair dali, não queria vê-lo, nem ouvi-lo, aqueles
segundos havia me embrulhado o estômago.
Apresentamos
a categoria e em seguida voltei para me trocar, eu não iria fazer nenhuma
performance como a da Lady Gaga, só cantaria minha música e dançaria um pouco,
esse era meu plano inicial.
Avistei
alguém se aproximando.
Vi
um rosto familiar sair entre as sombras causadas pelas luzes.
Era
Ashton Kutcher que estava diante de mim.
Ele
estava com aquele sorriso radiante.
“Uau!
Que escândalo!” Ashton disse me abraçando.
“Não
exagera, é só um vestido idiota”.
“Acho
que engravidei a garota errada”. Ele brincou.
“Engravidou
quem?”
“Mila”
ele respondeu sem graça.
“Eu
soube do romance pelos tabloides, mas a gravidez é novidade”.
“Pois
é”. Ashton suspirou fundo, e completou: “Seis meses já”.
“Parabéns,
ser pai é uma dádiva”.
“Obrigado”.
Ele disse.
“Você
é o próximo”. Falei sobre seu nome na tela.
“Sim,
sou. Boa sorte Sally”. Ele se despediu com um beijo no rosto.
“Boa sorte, até mais”.
Rever Ashton me mostrou tudo que eu
havia perdido pelas minhas decisões erradas, mas isso não me incomodava mais.
Fiz minha apresentação, mas no último minuto vi que Taylor me observava.
Ele estava todo de preto, sério e
penetrado.
Seus olhos focados em mim deixaram-me
incomodada, levando-me a sair do palco na última batida da bateria. Sai
correndo pelos bastidores completamente desorientada tentando apagar sua imagem
da minha cabeça, ele desapareceu graças a uma escuridão que tomou conta dos
meus olhos, apenas senti meus joelhos ao chão.
Não sei quanto tempo fiquei desacordada,
apenas abri meus olhos recuperando meus sentidos.
Havia uma luz forte, paredes brancas,
placa com pedido de silêncio, uma enfermeira?
Confusa eu estava e permaneci até
recuperar meus sentidos completamente.
Eu
não me recordo de chegar ao hospital, apenas de acordar e ver Channing
esperando que eu me recuperasse.
Channing estava com um semblante de
preocupação e vendo minha expressão confusa, levantou-se da poltrona.
“Você desmaiou”. Disse ele.
“Foi só um mal estar”.
“O médico está chegando”. Falou ele
apontando para a porta.
“Olá moça” cumprimentou atencioso.
“Olá
doutor. Eu me sinto bem melhor”.
“É
claro que sente. Você não está doente”.
“Graças
a Deus” Channing respirou aliviado.
Fiquei
confusa, se não estava doente, por que o desmaio?
“Então
o que está havendo comigo doutor?”
“Vocês
serão pais. Parabéns!”
POV TAYLOR
Existem muitas coisas
que fazem com que um homem se apaixone por uma mulher, a capacidade de fazê-lo
sorrir é uma delas. Não importa se é uma
conversa inteligente ou um papo sobre uma bobagem qualquer, a intimidade entre
pontos de vistas podem divergir, mas a forma como lidamos é o que faz a
diferença.
Existem
muitas coisas que fazem com que um homem fique louco por uma mulher e não é só
o sexo, mas a cumplicidade, a forma com que inspira seu lado bom, suas
qualidades.
Tudo
isso foi meu um dia.
Tive
tudo, mas era impressionante como demorei em valorizar o que era importante na
minha vida, o que poderia sustentar minha felicidade diariamente.
Era
isso que Sally representava para mim, era a âncora com tudo que havia de melhor
em mim. Somente ela sabia como inspirar meu sorriso a ser sempre o mais
verdadeiro possível.
Sally
fez tudo o que podia para me conquistar e mesmo sabendo de todos os riscos do
nosso envolvimento, eu decidi correspondê-la.
Dei
a ela momentos felizes, mas não a felicidade que merecia.
A
chantagem do Tarik complicou tudo, mas não justificou meu envolvimento com
Ashley, nem as palavras erradas que disse a ela. A verdade é que custou um
pouco até que eu entendesse como era amar verdadeiramente.
Eu
havia sido amado e muito, mas o amor que Sally me fez sentir era novo, o que
não justifica a forma brusca como agi tantas vezes ou confundi minhas atitudes
e escolha de palavras.
Estava
tão certo de que me afastar era o mais sensato a fazer, que nunca me perguntei
o que ela queria, o que ela pensava, o que era melhor para nós dois.
Tomado
por iniciativas egoístas joguei nosso amor fora.
Entre
segredos e mentiras, perdi a mulher que amava.
Resolvi ter meu amor de volta, nem que
para isso eu tivesse que jogar pesado ou fazer coisas que meu antigo eu reprovasse. Estava disposto a fazer
qualquer coisa por ela.
Eu cativei seu amor, me tornei
responsável por seus sentimentos e agora, o ódio que sentia pela sua perda,
seria o combustível certo parar destruir aquela pessoa que inspirou o pior que
havia em mim.
Tarik.
Perder Sally não fez meu coração
aceitar a derrota por completo, eu precisava descobrir como Tarik chegou tão
facilmente à vida pessoal de sua família.
Vingança é um sentimento ruim, mas por
diversas vezes me peguei saboreando o troco e fazendo-o engolir cada lágrima
que ele a havia feito derramar.
“Taylor?”
Ouvi alguém bater.
“Oi pai”.
“Vai ao MMA?”
“Sim”.
“Quer companhia?”
“Não precisa”.
“Está tudo bem?”
“Está”. Respondi ouvindo-o se afastar.
Nícolas havia tido uma ideia de usar
uma barriga falsa no MMA, era uma forma de protesto pelo fato de minhas
nomeações serem sobre meu corpo, estava rolando um boicote a
MTV por causa disso e pela
ausência de indicações a Saga. Achei conveniente aderir.
Era meio irônico, mas eu estava tão
cheio de raiva do Tarik que sentia um pouco de raiva de tudo a minha volta. A
minha vida estava insuportável sem ela.
Ver Sally com Channing me fez mais mal
do que pensei que faria, era um namoro publicitário, mas as fotos mostrava-os
tão espontâneos que pensei na possiblidade de ter surgido algo mais.
Quando comecei as gravações de Tracers
temi o namoro publicitário com Marie Avgeropoulos, me sentia desconfortável e
cansado da perseguição dos paparazzis, mas a pior parte era o medo de que Sally
acreditasse que estávamos juntos de verdade. Eu já a havia machucado tanto, não
queria que ela pensasse que eu havia seguido em frente tão facilmente.
Embora todo o caos que o namoro causava
aos fãs, estávamos cumprindo nosso papel e assim que o filme terminasse eu
poderia sair sozinho e ser eu mesmo, teria dado certo se Marie não confundisse
as coisas como fez.
O filme Tracers demorou a ser lançado
nos fazendo perder algumas distribuidoras e poucas decidiram manter. A crise
tomava conta da minha vida pessoal e da minha carreira.
Criei coragem para enfrentar o MMA e
mesmo correndo o risco de ser esnobado por Sally, desejei vê-la ainda que de
longe. Eu precisava do seu sorriso para suportar as crises da minha vida, mas
recusava me aproximar e feri-la ainda mais.
Ao chegar aos bastidores do MMA,
Nícolas, MacFarlane e Zac Efron estavam a minha espera para a caracterização.
“E aí boy?” Nícolas gritou com minha
chegada.
“Levante os braços”. Pediu Zac.
“Cara, você está gordo”. Nícolas
brincou.
“Essa não é a intenção?”
“É essa mesmo”.
“Que droga onde está a fivela para prender
aqui?” Nícolas perguntou procurando o objeto.
“Está com o outro rapaz que estava
aqui”. Zac respondeu.
“Que outro cara?” Indaguei tirando a
barriga falsa.
“Meu primo gay”. Nícolas respondeu
risonho.
“Ele foi para lá”. Apontou Zac.
Nícolas e eu saímos à procura do seu
primo.
“Ali está ele”. Nícolas apontou.
“Aquele é seu primo?”
“Sim, por quê?”
“Aquele conversando com Tarik?”
“Ele estava comigo na festa do Tarik,
esqueceu?”
“Eu não me lembro de você ter mencionado
isso Nícolas”.
“Nem eu”.
“Pegue a fivela que vou fazer uma coisa
e volto para vestir essa coisa”.
“Fui” Nícolas saiu na direção de
Robson.
Fingi ter saído e fiquei observando.
Tarik cumprimentou Nícolas com uma inocência que parecia
genuína, como se ele fosse
o ator e não eu.
Nícolas pegou a fivela e se afastou a
minha procura.
Robson e Tarik conversaram por mais
meio minuto. Tarik saiu pelo lado oposto a mim. O primo da Sally estava íntimo
do Tarik?
“Parece que encontrei o furo”. Resmunguei comigo mesmo.
“Ei rapaz”. Chamei Robson que parecia
apressado.
“Oi”. Respondeu confuso.
“Sou Taylor Lautner”. Expliquei-lhe
apertando a mão.
“Eu sei quem você é”. Deixou claro em
um tom antipático.
“Eu normalmente sou mais sutil, mas
estou sem tempo. Diga-me uma coisa, o que estava conversando com Tarik?”.
“Acho que você não tem nada a ver com
isso”.
“Eu realmente desejo que isso não seja
da minha conta, mas isso depende”.
“Depende do que?” Falou meio arrogante.
“Depende do que você disse a ele”.
“Sobre você? Eu não sou seu fã,
acalme-se”. Disse irreverente.
“Isso não é sobre mim, é sobre sua
família e eu vou perguntar pela última vez. Mencionou algum fato sobre eles?”
“Eu nunca mencionei nada sobre minha
família com Tarik”.
“Tarik? Está se referindo pelo primeiro
nome. São íntimos?”
“Eu não devo explicações a você”.
“A mim não, mas deve ao Nícolas. Como
Tarik sabe sobre sua detenção na adolescência? Por que ele agrediu uma pessoa?”
Perguntei.
“Como sabe sobre isso? Nícolas não pode
nem sonhar que você sabe disso cara, acredite, não vai querer saber dessa
história”. Revelou.
“Essa história pode chegar até a mídia
Robson. Não só essa, mas as dos seus tios, o alcoolismo, a causa perdida e todo
resto”. Ele se retraiu e com um semblante atordoado, preocupou-se.
“Do que você está falando?”
“Você disse tudo isso
ao Tarik, não há outra pessoa que pode ter dito isso a ele”.
“Eu não me lembro de ter dito nada
sobre isso”. Falou tentando recuperar qualquer fio de sua memória que o levasse
ao ocorrido.
“Por que você não se lembra?”
Especulei.
“Eu bebi demais na festa”.
“Eu já tomei um porre, mas me lembro de
tudo que disse”.
“Não foi só álcool”. Ele disse
constrangido.
“Tá explicado a amnésia então”.
Robson havia sido usado por Tarik, mas
estava tendo dificuldades em aceitar a verdade, porém quando ele caiu em si,
sua consciência pesou de tal forma que pude sentir sua tensão.
“Escuta cara”. Ele disse buscando uma
solução.
“Estou escutando”.
“Se você for mais claro comigo, serei
mais claro com você”.
“Está certo Robson. Serei breve”. Falei
arrastando-o para um lugar mais privado.
“E então?” Perguntou ansioso.
“Tarik forjou um flagra de paparazzi de
mim e Sally nus, mas não foi só isso. Recentemente ele soube de todos os
problemas envolvendo sua família e ameaça divulgar”.
“Isso não pode ser verdade!”
“Infelizmente é”.
“Tarik me usou esse tempo todo?”
Perguntou incrédulo.
“De quanto tempo estamos falando?”
“Desde que cheguei”.
“Vocês estão...”. Travei com as
palavras.
“Estamos tendo um caso”. Robson disse
às palavras que não consegui pronunciar.
“Eu não sei o que ele prometeu a você,
mas ele só queria colher informações para me manter afastado da Sally”.
“Por que ele está fazendo isso?”
“Não é óbvio?” Falei deixando-o pensar
por alguns segundos.
Robson colocou as mãos na cabeça talvez
se dando conta de como tudo isso poderia terminar mal. Por um instante pensei
que fosse chorar ali bem na minha frente.
“Eu vou matá-lo”. Falou tomado pela
raiva.
“Acredite não vale a pena”. Aconselhei-lhe.
“Não consigo acreditar. Como puder ser
tão burro?”
“Lamentar a essa altura não ajuda
muito. Desculpe. Como eu disse, prefiro ser mais sutil, mas estou sem tempo”.
“Como eu vou fazer para reverter isso?”
“Jogando o mesmo jogo dele”. Respondi.
“Como?”
“Vai precisar ser um pouco ator. Na
verdade, vai precisar ser muito sangue frio”.
“Eu sei ser falso. Consegui esconder
minha homossexualidade até enquanto quis. Vou fazer o que for preciso”.
“Okay. O primeiro passo é fingir que
não sabe de nada. Seja dissimulado, tente obter mais confiança dele”.
“Isso vai ser nojento”. Ele falou em
tom de desespero.
“Pense no resultado final. Pense na
volta que você vai dar”.
“Eu topo”. Robson concordou.
“Qual o número do seu celular? Vou
organizar tudo e ligo quando estiver com meu plano pronto”.
“Eu vou aguardar ansiosamente”. Robson
disse rancoroso.
Eu vi Robson deixar os bastidores do MMA
encoberto por uma mágoa que o deixava sombrio, ou era eu quem estava com alguns
tons de obscuridade naquela noite que representava a virada que estava
esperando.
Desejei perguntar ao Robson se ela e
Channing estavam juntos de verdade, mas isso era evasivo demais, então guardei
minha preocupação apenas para mim.
***
Rever as fotos e vídeos de Sally e Channing em
Nova York só me deixou ainda mais preocupado, além do que, era doloroso ver
aquilo.
Nícolas me disse que eles estavam
juntos de verdade, pois ouvia conversas entre Sally e Alexia sobre visitas de
Channing ao Hotel. Será que o fato de terem voltado juntos para Los Angeles
dizia alguma coisa?
Tentei de todas as formas me convencer
de que eram apenas amigos, mas ela estava tão revoltada comigo que poderia
fazer qualquer coisa para me esquecer.
Sally ter se rendido ao namoro
publicitário me mostrava que de alguma forma ela havia superado tudo o que eu havia
feito de ruim em sua vida. Em parte era bom, ela merecia seguir em frente e ser
feliz com alguém, mas também era evidente que a tinha perdido definitivamente.
O ódio que ela sentia de mim e toda
raiva por tudo que eu havia feito me deixava destruído por dentro, mas eu havia
causado essa situação e perguntar se não teria sido melhor ter contado tudo não
fazia doer menos.
Era tarde demais?
Por tantas vezes que magoei Sally,
talvez fosse tarde demais para nós dois, mas para revelar toda a verdade não.
Ao revelar as chantagens e todos os
erros que cometi, eu não esperava que ela voltasse correndo para os meus
braços, eu tinha esperança que sim, mas revelar toda a verdade por traz da
minha covardia talvez fizesse com que pelo menos ela sofresse menos.
Minha busca para acabar com a chantagem
do Tarik estava cada vez mais próxima, eu tinha Robson como aliado e já sabia
tudo que ia fazer para destruir meu agente.
Como eu disse, algumas pessoas
inspiram o melhor em você, mas outras trazem sentimentos tão dolorosos que nos
faz cometer ações que nunca imaginaríamos.
A sensação embora maltratada pelo medo
que eu sentia de algo dar errado era boa, saborosa, mas não tanto quanto seria
recuperar o amor de Sally que era o que mais almejava.
A única coisa que movia os meus dias era
a tentativa de pelo menos diminuir o fardo que eu havia jogado sobre suas
costas, a forma como feri uma pessoa que soube apenas me amar.
Quando um homem é idiota, o que
acontece são apenas consequências de suas atitudes, a decepção e o rancor são a
ponta de um iceberg que desabará em dor e sofrimento, era esse o homem que eu
havia sido.
Fiz as coisas que fiz por chantagem, covardia,
mas não me isento de minha culpa, porque embora fosse duro admitir, eu sabia
que a situação, todo aquele sofrimento havia sido causado por minha culpa, por
minha covardia.
Toda
essa situação havia sido gerada por não dividir com a mulher que eu amava o que
me afligia.
Os
problemas que nos rodeavam não podiam ser resolvidos apenas por mim, afinal é
isso que um casal faz, divide tudo que envolve um ao outro.
Com
medo de que ela sofresse, guardei o que interessava a ela apenas para mim, o
resultado foram verdades ocultadas e mais sofrimento que a verdade poderia
causar.
Eu
precisei destruir nossa relação para compreender que estar com alguém é dividir
não somente as alegrias como também os problemas, Sally merecia mais do que
todas as verdades ocultas, verdades essas que teria feito seu sofrimento menor.
E
eu escolhi o caminho mais árduo para aprender que para um relacionamento dar
certo precisa haver cumplicidade, confiança. Agora, eu não sabia se Sally
poderia me perdoar mais uma vez, se era tarde demais pra fazer o que eu deveria
ter feito há muito, mas sendo ou não, eu faria o certo. Ou ao menos tentaria.
_______________________________
¹PR* - Romance publicitário.
² MMA – MTV Movie Awards.
³ “Couple alert”
expressão usada pelo blogueiro de
Hollywood Perez Hilton para designar o alerta de surgimento de novo casal.
4 LAX- Aeroporto
Internacional de Los Angeles.
5 “Macy’s day parade” – Música da Banda Green Day.
6TVD –
The Vampires Diaries.
7Seth MacFarlane - (Ted)
- O ursinho de pelúcia desbocado que também concorria a melhor performance sem
camisa do MMA.
Notas da autora:
Não me odiem por terminar o POV da Sally daquela forma.
Comentem por favor : )