Capa: @jessica_keli
Texto/Fanfic: @ValzinhaBarreto
Ilustrações: @alexiaaugusto
Música tema: Just give me a reason - Pink
POV Taylor.
Minha
consciência dava seus primeiros sinais enquanto eu lutava contra minha
sonolência para abrir os olhos. A noite havia sido maravilhosa, quase surreal
se não fosse a excitação matinal ao pensar no quanto eu e Sally havíamos
aproveitado cada momento.
Briguei
por forças buscando abraçá-la e sentir seu perfume, mas minha mão vagou pelo
colchão esfregando o espaço vazio ao seu lado da cama.
Respirei e finalmente abri os olhos. Ela devia
estar me preparando um café da manhã, o que seria perfeito após todo o desgaste
do quarto azul. Assim pensei olhando em volta sem qualquer sinal de alguém além
de mim.
Pisei
no chão visualizando apenas a meu coturno desgastado, seus sapatos não estavam
lá. Aproximei-me da cozinha, nada havia fora do lugar, segui até o frigobar
notando que tudo estava como antes. Acompanhei minha curiosidade até o banheiro
e explorei os demais cômodos do quarto, mesmo o grande carpete estava com todas
as almofadas acomodadas no mesmo lugar.
Temi
a sensação estranha que permeou as veias dos meus braços apertando minhas mãos
em pulso, esmurrei o vento. Ela havia ido embora ou eu havia sonhado com tudo
aquilo. Mas onde eu estava? Notei uma longínqua dor de cabeça, lenta, mas sem
qualquer evidencia de que algo havia sido real.
Procurei
a chave do carro, o pendrive, tudo havia desaparecido. Parecia que aquela noite
nunca havia existido. Andei pelo quarto descrente de que ela fosse capaz disso,
era mais fácil a noite nunca ter existido do que a Sally me abandonar dessa
forma. Imaginava ingenuamente.
Olhei
o grande espelho, havia uma marca de mão, eram pequenas demais para ser a
minha, Sally havia estado ali, mas foi embora enquanto eu dormia.
“Bandida”
sussurrei olhando para o espelho notando que eu estava nu.
“Onde
estão minhas roupas?” perguntei ao meu reflexo olhando superficialmente ao
redor do quarto com um leve arrepio me possuindo.
Minha consciência não me permitira ver outra
coisa senão alguns flashes do que eu havia feito com ela no Brasil. Senti na
pele a sensação de adormecer tendo tudo e acordar sem nada. Um sentimento de arrependimento
tomou conta de mim lembrando-me do quando eu havia sido cruel com ela.
Achei
que devolvendo seu carro com todas as nossas lembranças deixariam as coisas
mais amenas, mas tudo aquilo talvez apenas a fizesse reviver o que eu havia
feito com ela, a forma injusta como desapareci, a crueldade com que me desfiz
das lembranças e a dor que ela havia sentido ao procurar por mim e não
encontrar um bilhete sequer com um adeus.
Ouvi
algo vibrar.
“Pelo
menos meu celular ela deixou” falei comigo.
“Make?”
atendi.
“Onde
você está?” perguntou Makena agoniada.
“Estou
bem Makes, estou a caminho para o café da manhã okay?”
“Café
da manhã? Já passou da hora do almoço Taylor.” Ela caçoou.
“Que
horas são?” perguntei assustado.
“Em
que planeta você está? Já passa do meio dia” respondeu ela sorrindo do outro
lado da linha com um tom sapeca que eu tanto amava.
“Meu
Deus acho que fui drogado” desabafei.
“Isso
é serio? Foi mesmo drogado?” Ela perguntou descrente.
“Não
especificamente”.
“O
que houve com sua voz?” ela perguntou notando que eu bufava do outro lado da
linha.
“Longa
história te conto quando voltar. Nem sei o que dizer agora” justifiquei sem
querer prolongar mais a conversa.
“Okay,
você chega em quantos minutos?”
“Não
vou embora agora. Estou sem chão”.
“Você
bebeu com o Nícolas outra vez?” perguntou ela.
“Com
o Nícolas não, mas com sua versão feminina igualmente catastrófica” disse
sentindo a dor de cabeça agora mais forte.
“Não
entendi Tay” ela murmurou confusa.
“Nada
não... Nem poderia entender. Vemo-nos em breve, preciso ver uma bandida o
quanto antes”. Desliguei sentindo meu sangue pular.
Sally
não apenas tinha se vingado do meu abandono, ela havia ido mais além. Deixar-me
nu naquele hotel, sem ao menos um roupão foi uma bandidagem da parte dela.
Senti por um curto momento que aquela moça doce que eu havia conhecido havia se
despeço da moça com que eu havia passado a noite anterior.
Fraquejei por alguns segundos ao lembrar-me do
quanto havia sido perfeito os momentos que havíamos passado juntos, mas a minha
raiva fazia-se presente lembrando-me de sua represália, embora ela estivesse
apenas me dado o troco a raiva me invadia em uma dor intensa deixando-me
estonteado, eu nunca havia ficado zangado com ela em nenhum momento.
A
sensação de ser decepcionado por quem amamos e esperamos sempre as melhores
atitudes trás uma dor duplicada deixando um vazio que rouba-nos lembranças
boas, é como se os pesares fossem mais intensos que a alegria que recebemos.
Isso é injusto e incoerente.
Uma
parte de mim achava que Sally havia exagerado e outra parte achava que eu havia
merecido, afinal não havia necessidade de tirar todas as lembranças de nós como
se fosse possível tirar o sentimento do coração, essa foi umas das duras lições
que aceitei, não podemos decidir nada por ninguém, não há como saber se o que
fazemos é o certo ou apenas parece certo em um momento.
Por
mais cômodo que seja para nós, não podemos decidir o que não nos convém. O que
é bom para mim, não era bom para ela. Eu aprendia finalmente um pouco dessa lição.
Todos
tem o direito de tomar suas decisões, eu a quis privar do sofrimento, mas só o
intensifiquei mais com minhas atitudes egoístas. Agora isso estava ali na minha
frente, como não notei isso antes?
A
minha cabeça agora parecia explodir em meio a tantas reflexões.
Liguei
na recepção do Hotel e me disseram que a meu pedido tudo estava sendo lavado,
inclusive minhas roupas. A camareira batia na porta. Como abriria? A única
coisa que havia disponível para cobrir minha nudez eram as cortinas ou o lençol
da cama. Fiquei com a segunda opção.
“Porque
ela fez isso?” me perguntei abrindo a porta.
“Desculpe
incomodar Senhor, vim avisar que sua roupa está pronta”.
Disse
a moça segurando as peças e visualizando o lençol da cama envolto do meu corpo
com um olhar receado. Peguei-o de suas mãos e vesti, mas a cueca não estava.
“Bandida”
balbuciei entre dentes e vesti somente a calça e camiseta.
Eu
estava vestido, mas estava a pé já que ela havia levado o carro e o meu estava
em sua casa.
Seria
trágico, mas alguém precisava trazer meu carro até a Pequena porta. Implorei a
Deus que Alexia atendesse o telefone, mas não, ela não estava disponível e
infelizmente ele era minha única opção. Odiei-me, mas liguei.
Meu
Iphone parecia implorar para que eu discasse seu número. Eu mesmo me
arrependeria, mas ele atendeu a ligação.
“Alô.
Oi. É o Taylor” eu disse meio perdido.
“Falaê
boy de Hollywood” bradou a voz sarcástica no Nícolas do outro lado da linha em
tom desgovernado.
“Nícolas
onde está sua irmã?” indaguei zangado.
“Não
sei não boy. Não vi ela hoje” respondeu com um sorrisinho no fundo me deixando
com maior desgosto.
“Cara.
Sua irmã é do mal. Ela é do mal cara!” afirmei furioso.
“Porque
do mal?” perguntou dissimulado.
“Escuta.
Esquece! Preciso que traga meu carro até o restaurante A pequena porta”.
“Mas
o que aconteceu?” ele perguntou confuso.
“Venha
me buscar, por favor? Eu lhe deixarei aí e vou para minha casa”.
“O
que eu vou ganhar com isso?” perguntou Nícolas descarado.
“Nícolas.
Talvez seja pedir demais. Por favor, será que você poderia deixar de você só
hoje? Eu não estou legal cara!”.
“Okay!
Vou lhe buscar, mas vou querer o telefone da Swift”.
“Cara!
Você é detestável”.
“O
detestável está indo lhe buscar seu ingrato”. Disse Nícolas desligando.
A
conversa com Nícolas me deixou mais ávido para ver Sally na minha frente. Eu
esperaria o tempo que fosse necessário para conversar com ela. Algumas coisas precisavam ser esclarecidas
o quanto antes, mas meu desapontamento pela fuga era o que me motivava mais.
Coloquei
o uniforme dos funcionários do Hotel para não ser reconhecido e abaixando a aba
do boné sai do hotel após a chegada no Nícolas no estacionamento privado. Ele
posicionou seus dois olhos azuis em mim e ficou alguns segundos em silencio
vendo que de fato eu estava muito zangado.
“Quem
morreu?” ele perguntou quebrando o silencio.
“Apenas
dirija” disse cortando-o.
“Okay
madame. Quer ouvir um som ambiente?”
“Pelo
amor de Deus, não ouse a ligar o som desse carro” Instrui.
“Uhh!
Foi sério hein?” ele disse tirando seu dedo do botão.
“Onde
está a Sally?” perguntei.
“Eu
já falei cara. Não a vi, mas a ouvi”.
“Ouviu?”
“Sim.
Era muito cedo, eu só acordo mentalmente depois das nove da manhã, mas ela
ouvia ¹Plateau e quando levantei senti seu perfume, ela havia saído antes que
Alexia levantasse também”.
“Bandida”.
“Bandida
a Sally? Claro que não Sally é um anjo, mas não dormiu em casa. Eu e Alexia
chegamos tarde, e ela não estava” disse Nícolas gesticulando uma aréola
angelical em sua cabeça com um cinismo comum.
“Não
a defenda okay? Ela estava comigo”.
“É
claro que estava. E onde esta agora?” ele perguntou franzindo a sobrancelha em
tom de indagação.
“Ela
saiu à francesa”.
“Sally
saiu enquanto você dormia, de mansinho?”.
“Sim...
Mas não somente saiu enquanto eu dormia”.
“Deixa
eu adivinhar, ela te deixou com o pau na mão?”.
“Não
seja ridículo Nícolas”.
“Você
a mandou chupar e ela mordeu?” perguntou com uma seriedade falsa e com um
sorriso no canto da boca.
“Não
foi nada disso, cala a boca”.
“Essa
raiva toda foi só porque ela saiu enquanto você dormia? Quanto drama Taylor”.
“Drama?
Imagine que você teve uma noite maravilhosa com uma mulher e ela sai enquanto
você dorme, depois apaga todos os rastros de que a noite existiu e por fim
deixa você sem roupas, toalhas, lençóis, nada, nu.”.
“Nu?”
Nícolas gargalhou.
“Você
acha engraçado?” perguntei zangado.
“A
foda deve ter sido ruim para ela sair dessa forma”.
“Não
tem nada a ver. Eu fui bem, ela apenas ferrou comigo como ferrei com ela, mas
com uma dose maior entende?”.
“Sim
entendo” concordou Nícolas.
“Entende?”
perguntei abismado.
“Sim.
Eu li alguns trechos do diário da Alexia. Sei da coisa toda no Brasil. Cara
você é meio gay”.
“Ser
romântico não é ser gay Nícolas”.
“Você
foi romântico esta noite com minha irmã?”
“Eu
não vou falar da minha intimidade com a Sally para você”.
Ele
entendeu e manteve seu silencio, mas esboçou um semblante enigmático e não
conteve as palavras em sua boca.
“Cadê
o telefone da Taylor Swift? Quero fazer ela gemer Love Story no meu ouvido até
amanhecer o dia”. Brincou sorrindo.
Ignorei
o comentário maldoso do Nícolas sobre minha ex.
Não
valia apena responder nada.
“Chegamos
madame”. Comentou Nícolas ao chegar a
sua casa.
O
carro que eu havia dado a ela estava na garagem, e o meu também. Entrei na
esperança de que Alexia soubesse onde estava. Ela colocou seus olhos sobre mim
e franziu a testa exibindo um aspecto de dúvida. Engoli minha angustia e a
cumprimentei.
“Oi
Aléxia?” perguntei vendo-a confusa com minha presença.
“Oi
Taylor, tudo bem?” Respondeu perguntando e dando um beijo no rosto e um ligeiro
abraço.
“Onde
esta a Sally?” Perguntei não suportando a agonia.
“Eu
não sei Taylor. Não a vi hoje e ela não atende o celular” respondeu Aléxia com
um tom de honestidade.
“Ela
vai voltar para casa uma hora e vou esperá-la”.
“Aléxia”
disse Nícolas chamando sua atenção para ele “Acredita que a Sally deixou o
Taylor peladão no Hotel e sumiu?”. Completou gargalhando.
“Eu
não sei nada sobre isso. É sério!” disse Aléxia segurando o riso.
“Tudo
bem!” concordei vendo a sinceridade em seus olhos.
“Você
está bem?” Perguntou preocupada.
“Posso
deitar um pouco no quarto dela?” pedi permissão “Estou com uma dor de cabeça
infernal. Misturei um vinho francês com um inglês e estou sentindo uma
enxaqueca insuportável”.
“Acho
que sim”. Alexia disse desconfiada.
“Okay,
sei o caminho. Eu não sairei do quarto dela até ela voltar. Avise-a. Ficarei o
mês inteiro se necessário, mas ela precisa me ouvir” adverti.
Entrei
no quarto notando o quão Sally era assustadoramente organizada. Em sua
escrivaninha não havia uma caneta sequer fora do lugar e sua cama, bem como
todo o resto estavam perfeitamente alinhados. Nícolas não mentiu, o perfume que
ela usou antes de sair estava no ar.
Alexia
apareceu na porta do quarto da Sally preocupada com minha presença, com minha
aparência e com a discussão que temia vir com a chegada da Sally.
“Você
quer comer alguma coisa?” perguntou ela.
“Não...
Estou muito enjoado”. Respondi.
Nícolas
aproximou por detrás de Aléxia deixando-a tensa com sua aproximação. Eu já
observava suas reações diante do Nícolas a algum tempo. Havia algo mais. Ele
saiu detrás dela e olhando meu rosto meio atrapalhado, sorriu debilmente.
“Toma
um banho cara, você se sentirá melhor” sugeriu Nícolas entrando quarto e
apontando para o banheiro.
“Eu
vou aceitar o banho”. Concordei levantando-me da cama, eu precisava permanecer
na casa o máximo que eu pudesse para colocar as mãos na loira fujona.
Alexia
focou-me com seu olhar terno e com uma pequena caixa de primeiros socorros em
mão buscava algo incessantemente.
“Taylor
eu vou lhe dar uma remédio para aliviar sua dor de cabeça” disse ela saindo do
quarto e voltando rapidamente com um copo de água.
“Beba
apenas um comprimido desses e vai se sentir melhor” sugeriu.
Nícolas
vendo seu ato de generosidade também queria ajudar.
“Você
quer uma roupa minha para vestir?” ofereceu Nícolas lembrando-me da minha cueca
que Sally havia raptado.
“Não
é necessário. A Sally mandou lavar essas que estou usando”.
“Ah...
Então ela não te deixou peladão de proposito” parodiou.
“Deixou
sim...”. Encerrei entrando no banheiro notando que ambos haviam saído do quarto
para me dar privacidade.
O
banho aliviou um pouco mais minha articulação. E o remédio de Alexia removeu
parte da dor de cabeça ficando apenas a dor que sentia no meu coração. Sentei
na beira da cama reflexivo notando seu violão torto em cima da poltrona, eu não
havia notado, mas ele estava fora do lugar, ela parecia muito organizada para
deixá-lo ali, exceto se saísse às pressas. Porque sairia tão apressada? O que
era tão urgente?
Nícolas
vendo que eu observava o violão tomou-o em suas mãos e começou passar seus
dedos entre as cordas como se brincasse.
“Toque
a música que você disse que ela tanto ouve. Consegue?”.
“Consigo
tocar qualquer coisa que eu já tenho ouvido”.
“Então.
Toque” ordenei vendo-o se sentar na poltrona.
Nícolas
começou tocar Plateau, o som da música percorreu meus tímpanos como se nivelasse
a agonia que eu sentia. Eu nunca o havia visto cantar exceto pela vaga
lembrança de nós dois bêbados no carro cantando ¹Come as you are na madrugada
do meu aniversário. Sua voz havia sido umas das mais bonitas que já havia
ouvido, em algumas partes da musica chegou a superar o próprio Kurt Cobain em
afinação. Ele era muito bom, mas eu nunca havia tido a oportunidade de apreciar
seu talento, era um dom de família pelo visto.
Ao
final da música Nicolas se calou olhando para a porta do quarto com um olhar
tempestuoso, Sally havia chegado. Ouvi sua voz e antes que Alexia dissesse que
estava lá corri ao seu encontro.
Sally
empalideceu como se visse uma assombração, mas manteve a postura permanecendo
aparentemente firme. Abriu um sorriso fechado e olhou-me como certa
curiosidade.
“Oi
Taylor. Que surpresa!” ela falou simplesmente.
“Surpresa
boa eu espero” provoquei.
“Ah
sim. Uma surpresa perfeita” comentou ela sorrindo maliciosamente.
“Posso
falar com você em particular?” pedi.
“Não
sei... Estou um pouco cansada. Não dormi. Estou um pouco indisposta. Pode
voltar outra hora?” ela deu uma desculpa como se eu não fosse ninguém.
“Não
Sally. Tem que ser agora” recusei sua estratégia de escape.
“Okay,
eu vou lhe acompanhar até seu carro enquanto conversamos”.
“Está
me expulsando?” perguntei aborrecido enquanto ouvi Nícolas se deliciar com a
cena. Ela o fitou com os olhos e voltou para a conversa.
“Taylor...
Claro que não... De forma alguma. É que estou um pouco indisposta e preciso
dormir um pouco para conseguir me concentrar”. Ela falou colocando um envelope
sobre a mesa, mas fingi não notá-lo.
Ao
chegar à varanda da casa, Sally me encarou como se eu fosse apenas um cara
qualquer e mesmo sua respiração parecia sarcástica. Fervi por dentro.
“O
que você quer?” ela perguntou séria.
“O
que eu quero?” perguntei surpreso com sua indiferença.
“Olha
Taylor. Se você veio até aqui para me dizer mesmices, economize sua saliva. Não
quero ouvir as suas desculpas, nem nada. Já sai antes de toda essa lorota
porque não suporto mais ouvi-las.” Esbravejou dura.
Ela
estava enfadonha e me confrontou como se eu não tivesse o menor controle das
minhas ações. Retomei meu controle e a afrontei em contrapartida.
“Ah
sim, claro! Obrigada pela atenção. Eu não vim me desculpar Sally. Você
exagerou. Não havia necessidade de me deixar naquele quarto de hotel sozinho,
ainda mais depois de tudo que houve. Admita”.
“A
qual tudo se refere?”
“Esquece!”
encerrei já exausto.
“Admita
você o quanto é horrível ser abandonado. Taylor. Você fez pior”.
“Eu
não deixei você nua Sally”.
“Mas
eu me senti nua... Me senti perdida e sozinha... E assim segue a lista de
sensações estranhas e dolorosas que senti”. Disse ela justificando.
“Eu
peço desculpas mais uma vez. Você tem razão. Sempre teve, mas continuo achando
desnecessário o que você fez” Falei sentindo sua raiva subir.
“O
que eu fiz? Você se refere ao fato de te deixar nu ou apenas por ter indo
embora pela manhã?”
“Um
misto dos dois” Respondi chateado e imprevisivelmente.
“Então...
Não vou pedir desculpas por lhe deixar nu, muito menos por ir embora pela
manhã. Não vou me desculpar porque esse foi o trato Uma noite como lembrança e não vinte quarto horas de amor, ou até
que a morte os separe”. Esbravejou furiosa.
“Tem
razão. Foi apenas uma noite como lembrança” cedi sabendo que eu não podia
oferecer nada a ela, não naquele momento. Havia dor em suas palavras, mas havia
muita verdade em tudo que ela disse e eu precisava aceitar embora estivesse com
raiva pela sua fuga. Sally mudou muito, ela estava apreensiva, mas também muito
precavida e ainda mais astuta. Isso era bom.
“Então
está tudo certo” ela concordou sem meias palavras encerrando nossa conversa
como se nada mais importasse.
“Você
está muito diferente” Critiquei cedendo a minha gana.
“Agente
aprende” ela provocou com um sorriso mordaz.
“Aprende
mesmo. Será que você, por favor, devolver a chave do meu carro?” pedi querendo
desaparecer da sua frente.
“Sim,
claro. Aqui está!” ela balançou o chaveiro diante dos meus olhos.
“Meu
pendrive, onde está?” inquiri vendo-a esmorecer.
“Não
sei onde deixei. Lamento. Passa amanhã” disse levando-me ao inferno. Seu desdém
deixava-me louco, embora merecesse.
“Passar
amanhã? É sério?” indaguei quase perdendo o controle.
“Sim!
Porque acha que estou brincando?” perguntou Sally repreendida.
“Eu
é quem devia estar com raiva por você ter me deixado naquele hotel sem roupas,
sem lençóis, sem nada” expliquei-lhe.
“Dói
né?” ela caçoou rebatendo.
“Eu
me desculpei pelo que fiz Sally. Eu lhe devolvi o carro, a caixa e tudo que
havia de nós dois. Entendo sua raiva, mas se desfaça dela!”.
“Você
acha mesmo que me devolvendo muda o que você fez? Você não pode me comprar
Taylor. Não me comprou a primeira vez e não iria comprar agora. Ter o carro de
volta é bom, mas nunca tê-lo perdido era melhor”.
“Você
tem razão. Não posso mudar o que passou, nem o que fiz. Estou desperdiçando o
seu e o meu tempo. Melhor eu ir” cedi me afastando.
“Tudo
bem... Até mais” Concordou pausando e saindo da minha frente. A sensação era
estranha. Coloquei a chave na ignição e respirei fundo.
Entrei
no interior do meu carro e fiquei com a cabeça no volante tentando me acalmar.
Eu experimentava minha raiva e culpa se atracando por um espaço no meu coração,
mas eu não queria ceder para nenhum desses sentimentos. Eu não precisava ser
guiado por eles.
Eu
ainda queria dizer mais algumas coisas a ela. Recuperei minha calma. Deitei
minha cabeça sobre o volante e desliguei o carro. Eu não tinha o direito de
estar tão bravo. Apesar de serem situações diferentes, eu não podia comparar a
dor que ela sentia com a minha.
Voltei ao interior da casa enquanto ouvia a
voz da Sally com Nícolas no aparentemente no quarto de Aléxia conversando sobre
o havia acontecido. Pensei em chamar,
mas o envelope que ela havia deixado em cima da mesa me atraia convidando-me
para ver o que havia no seu interior. Eu sabia que era errado, mas ela havia
saído às pressas por causa de algo relacionado com que tinha no interior do
envelope, eu queria saber o que era.
Minha
curiosidade arrastou-me ao erro obrigando minha consciência a invadir sua
privacidade, mas uma sensação estranha tomou conta de mim quando imaginei o que
havia no interior do grosso envelope.
Eu
o abri.
Tomei
o pacote em minha mão e iniciei a leitura, eu deveria ler rápido e devolver
imediatamente. Minha vista passou pelo conteúdo do documento, então notei que
Sally e Channing Tatum o haviam assinado. Enfraqueci.
Três
tipos de medo me envolveram naquele momento e quando vi o conteúdo e as
cláusulas um frio me invadiu eriçando-me cada vez que o nome de Channing era
mencionado.
Senti
um sabor amargo, um velho sabor que só ela me fazia sentir. Por mais que Sally houvesse mudado, temi que
ela não conseguisse lidar com tudo aquilo. Eu conhecia o jogo, sabia como
jogar, mas ela poderia se machucar.
Ouvi
alguém se aproximar e tentei esconder o documento, mas era tarde demais, os
olhos azuis de Sally revezavam o foco entre mim e o documento em minhas mãos
sem dizer uma palavra.
Quando
me deparei com seu olhar e com todo o sentimento que havia no meu coração, eu o
ouvi gritar me propondo uma solução momentânea. Uma ideia aparentemente genial
tomou-me a mente. Olhei em seu olhar e depois de tanto tempo longe aceitei a
ideia. Talvez eu pudesse ter mais que apenas uma noite como lembrança. Havia
finalmente uma saída e a essa altura eu era capaz de tudo para tê-la um pouco
mais.
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¹Plateau – Música da banda Nirvana.
¹Come
as you are – Música da banda Nirvana.