Fanfiction: “Uma chance com Taylor Lautner” Capítulo 59: À francesa


Capa: @jessica_keli
Texto/Fanfic: @ValzinhaBarreto
Ilustrações: @alexiaaugusto
Música tema: Just give me a reason - Pink
POV Taylor.

         Minha consciência dava seus primeiros sinais enquanto eu lutava contra minha sonolência para abrir os olhos. A noite havia sido maravilhosa, quase surreal se não fosse a excitação matinal ao pensar no quanto eu e Sally havíamos aproveitado cada momento.

         Briguei por forças buscando abraçá-la e sentir seu perfume, mas minha mão vagou pelo colchão esfregando o espaço vazio ao seu lado da cama.
          Respirei e finalmente abri os olhos. Ela devia estar me preparando um café da manhã, o que seria perfeito após todo o desgaste do quarto azul. Assim pensei olhando em volta sem qualquer sinal de alguém além de mim.
         Pisei no chão visualizando apenas a meu coturno desgastado, seus sapatos não estavam lá. Aproximei-me da cozinha, nada havia fora do lugar, segui até o frigobar notando que tudo estava como antes. Acompanhei minha curiosidade até o banheiro e explorei os demais cômodos do quarto, mesmo o grande carpete estava com todas as almofadas acomodadas no mesmo lugar.
         Temi a sensação estranha que permeou as veias dos meus braços apertando minhas mãos em pulso, esmurrei o vento. Ela havia ido embora ou eu havia sonhado com tudo aquilo. Mas onde eu estava? Notei uma longínqua dor de cabeça, lenta, mas sem qualquer evidencia de que algo havia sido real.
         Procurei a chave do carro, o pendrive, tudo havia desaparecido. Parecia que aquela noite nunca havia existido. Andei pelo quarto descrente de que ela fosse capaz disso, era mais fácil a noite nunca ter existido do que a Sally me abandonar dessa forma. Imaginava ingenuamente.
         Olhei o grande espelho, havia uma marca de mão, eram pequenas demais para ser a minha, Sally havia estado ali, mas foi embora enquanto eu dormia.
         “Bandida” sussurrei olhando para o espelho notando que eu estava nu.
         “Onde estão minhas roupas?” perguntei ao meu reflexo olhando superficialmente ao redor do quarto com um leve arrepio me possuindo.
          Minha consciência não me permitira ver outra coisa senão alguns flashes do que eu havia feito com ela no Brasil. Senti na pele a sensação de adormecer tendo tudo e acordar sem nada. Um sentimento de arrependimento tomou conta de mim lembrando-me do quando eu havia sido cruel com ela.
         Achei que devolvendo seu carro com todas as nossas lembranças deixariam as coisas mais amenas, mas tudo aquilo talvez apenas a fizesse reviver o que eu havia feito com ela, a forma injusta como desapareci, a crueldade com que me desfiz das lembranças e a dor que ela havia sentido ao procurar por mim e não encontrar um bilhete sequer com um adeus.
         Ouvi algo vibrar.
         “Pelo menos meu celular ela deixou” falei comigo.
         “Make?” atendi.
         “Onde você está?” perguntou Makena agoniada.
         “Estou bem Makes, estou a caminho para o café da manhã okay?”
         “Café da manhã? Já passou da hora do almoço Taylor.” Ela caçoou.
         “Que horas são?” perguntei assustado.
         “Em que planeta você está? Já passa do meio dia” respondeu ela sorrindo do outro lado da linha com um tom sapeca que eu tanto amava.
         “Meu Deus acho que fui drogado” desabafei.
         “Isso é serio? Foi mesmo drogado?” Ela perguntou descrente.
         “Não especificamente”.
         “O que houve com sua voz?” ela perguntou notando que eu bufava do outro lado da linha.
         “Longa história te conto quando voltar. Nem sei o que dizer agora” justifiquei sem querer prolongar mais a conversa.
         “Okay, você chega em quantos minutos?”
         “Não vou embora agora. Estou sem chão”.
         “Você bebeu com o Nícolas outra vez?” perguntou ela.
         “Com o Nícolas não, mas com sua versão feminina igualmente catastrófica” disse sentindo a dor de cabeça agora mais forte.
         “Não entendi Tay” ela murmurou confusa.
         “Nada não... Nem poderia entender. Vemo-nos em breve, preciso ver uma bandida o quanto antes”. Desliguei sentindo meu sangue pular.
         Sally não apenas tinha se vingado do meu abandono, ela havia ido mais além. Deixar-me nu naquele hotel, sem ao menos um roupão foi uma bandidagem da parte dela. Senti por um curto momento que aquela moça doce que eu havia conhecido havia se despeço da moça com que eu havia passado a noite anterior.
          Fraquejei por alguns segundos ao lembrar-me do quanto havia sido perfeito os momentos que havíamos passado juntos, mas a minha raiva fazia-se presente lembrando-me de sua represália, embora ela estivesse apenas me dado o troco a raiva me invadia em uma dor intensa deixando-me estonteado, eu nunca havia ficado zangado com ela em nenhum momento.
         A sensação de ser decepcionado por quem amamos e esperamos sempre as melhores atitudes trás uma dor duplicada deixando um vazio que rouba-nos lembranças boas, é como se os pesares fossem mais intensos que a alegria que recebemos. Isso é injusto e incoerente.
         Uma parte de mim achava que Sally havia exagerado e outra parte achava que eu havia merecido, afinal não havia necessidade de tirar todas as lembranças de nós como se fosse possível tirar o sentimento do coração, essa foi umas das duras lições que aceitei, não podemos decidir nada por ninguém, não há como saber se o que fazemos é o certo ou apenas parece certo em um momento.
         Por mais cômodo que seja para nós, não podemos decidir o que não nos convém. O que é bom para mim, não era bom para ela. Eu aprendia  finalmente um pouco dessa lição.
         Todos tem o direito de tomar suas decisões, eu a quis privar do sofrimento, mas só o intensifiquei mais com minhas atitudes egoístas. Agora isso estava ali na minha frente, como não notei isso antes?
         A minha cabeça agora parecia explodir em meio a tantas reflexões.
         Liguei na recepção do Hotel e me disseram que a meu pedido tudo estava sendo lavado, inclusive minhas roupas. A camareira batia na porta. Como abriria? A única coisa que havia disponível para cobrir minha nudez eram as cortinas ou o lençol da cama. Fiquei com a segunda opção.
         “Porque ela fez isso?” me perguntei abrindo a porta.
         “Desculpe incomodar Senhor, vim avisar que sua roupa está pronta”.
         Disse a moça segurando as peças e visualizando o lençol da cama envolto do meu corpo com um olhar receado. Peguei-o de suas mãos e vesti, mas a cueca não estava.
         “Bandida” balbuciei entre dentes e vesti somente a calça e camiseta.
         Eu estava vestido, mas estava a pé já que ela havia levado o carro e o meu estava em sua casa.
         Seria trágico, mas alguém precisava trazer meu carro até a Pequena porta. Implorei a Deus que Alexia atendesse o telefone, mas não, ela não estava disponível e infelizmente ele era minha única opção. Odiei-me, mas liguei.
         Meu Iphone parecia implorar para que eu discasse seu número. Eu mesmo me arrependeria, mas ele atendeu a ligação.
         “Alô. Oi. É o Taylor” eu disse meio perdido.
         “Falaê boy de Hollywood” bradou a voz sarcástica no Nícolas do outro lado da linha em tom desgovernado.
         “Nícolas onde está sua irmã?” indaguei zangado.
         “Não sei não boy. Não vi ela hoje” respondeu com um sorrisinho no fundo me deixando com maior desgosto.
         “Cara. Sua irmã é do mal. Ela é do mal cara!” afirmei furioso.
         “Porque do mal?” perguntou dissimulado.
         “Escuta. Esquece! Preciso que traga meu carro até o restaurante A pequena porta”.
         “Mas o que aconteceu?” ele perguntou confuso.
         “Venha me buscar, por favor? Eu lhe deixarei aí e vou para minha casa”.
         “O que eu vou ganhar com isso?” perguntou Nícolas descarado.

         “Nícolas. Talvez seja pedir demais. Por favor, será que você poderia deixar de você só hoje? Eu não estou legal cara!”.
         “Okay! Vou lhe buscar, mas vou querer o telefone da Swift”.
         “Cara! Você é detestável”.
         “O detestável está indo lhe buscar seu ingrato”. Disse Nícolas desligando.
         A conversa com Nícolas me deixou mais ávido para ver Sally na minha frente. Eu esperaria o tempo que fosse necessário para conversar com ela.      Algumas coisas precisavam ser esclarecidas o quanto antes, mas meu desapontamento pela fuga era o que me motivava mais.
         Coloquei o uniforme dos funcionários do Hotel para não ser reconhecido e abaixando a aba do boné sai do hotel após a chegada no Nícolas no estacionamento privado. Ele posicionou seus dois olhos azuis em mim e ficou alguns segundos em silencio vendo que de fato eu estava muito zangado.
         “Quem morreu?” ele perguntou quebrando o silencio.
         “Apenas dirija” disse cortando-o.
         “Okay madame. Quer ouvir um som ambiente?”
         “Pelo amor de Deus, não ouse a ligar o som desse carro” Instrui.
         “Uhh! Foi sério hein?” ele disse tirando seu dedo do botão.
         “Onde está a Sally?” perguntei.
         “Eu já falei cara. Não a vi, mas a ouvi”.
         “Ouviu?”
         “Sim. Era muito cedo, eu só acordo mentalmente depois das nove da manhã, mas ela ouvia ¹Plateau e quando levantei senti seu perfume, ela havia saído antes que Alexia levantasse também”.
         “Bandida”.
         “Bandida a Sally? Claro que não Sally é um anjo, mas não dormiu em casa. Eu e Alexia chegamos tarde, e ela não estava” disse Nícolas gesticulando uma aréola angelical em sua cabeça com um cinismo comum.
         “Não a defenda okay? Ela estava comigo”.
         “É claro que estava. E onde esta agora?” ele perguntou franzindo a sobrancelha em tom de indagação.
         “Ela saiu à francesa”.
         “Sally saiu enquanto você dormia, de mansinho?”.
         “Sim... Mas não somente saiu enquanto eu dormia”.
         “Deixa eu adivinhar, ela te deixou com o pau na mão?”.
         “Não seja ridículo Nícolas”.
         “Você a mandou chupar e ela mordeu?” perguntou com uma seriedade falsa e com um sorriso no canto da boca.
         “Não foi nada disso, cala a boca”.
         “Essa raiva toda foi só porque ela saiu enquanto você dormia? Quanto drama Taylor”.
         “Drama? Imagine que você teve uma noite maravilhosa com uma mulher e ela sai enquanto você dorme, depois apaga todos os rastros de que a noite existiu e por fim deixa você sem roupas, toalhas, lençóis, nada, nu.”.
         “Nu?” Nícolas gargalhou.
         “Você acha engraçado?” perguntei zangado.
         “A foda deve ter sido ruim para ela sair dessa forma”.
         “Não tem nada a ver. Eu fui bem, ela apenas ferrou comigo como ferrei com ela, mas com uma dose maior entende?”.
         “Sim entendo” concordou Nícolas.
         “Entende?” perguntei abismado.
         “Sim. Eu li alguns trechos do diário da Alexia. Sei da coisa toda no Brasil. Cara você é meio gay”.
         “Ser romântico não é ser gay Nícolas”.
         “Você foi romântico esta noite com minha irmã?”
         “Eu não vou falar da minha intimidade com a Sally para você”.
         Ele entendeu e manteve seu silencio, mas esboçou um semblante enigmático e não conteve as palavras em sua boca.
         “Cadê o telefone da Taylor Swift? Quero fazer ela gemer Love Story no meu ouvido até amanhecer o dia”. Brincou sorrindo.
         Ignorei o comentário maldoso do Nícolas sobre minha ex.
         Não valia apena responder nada.
         “Chegamos madame”.  Comentou Nícolas ao chegar a sua casa.
         O carro que eu havia dado a ela estava na garagem, e o meu também. Entrei na esperança de que Alexia soubesse onde estava. Ela colocou seus olhos sobre mim e franziu a testa exibindo um aspecto de dúvida. Engoli minha angustia e a cumprimentei.
         “Oi Aléxia?” perguntei vendo-a confusa com minha presença.
         “Oi Taylor, tudo bem?” Respondeu perguntando e dando um beijo no rosto e um ligeiro abraço.
         “Onde esta a Sally?” Perguntei não suportando a agonia.
         “Eu não sei Taylor. Não a vi hoje e ela não atende o celular” respondeu Aléxia com um tom de honestidade.
         “Ela vai voltar para casa uma hora e vou esperá-la”.
         “Aléxia” disse Nícolas chamando sua atenção para ele “Acredita que a Sally deixou o Taylor peladão no Hotel e sumiu?”. Completou gargalhando.
         “Eu não sei nada sobre isso. É sério!” disse Aléxia segurando o riso.
         “Tudo bem!” concordei vendo a sinceridade em seus olhos.
         “Você está bem?” Perguntou preocupada.
         “Posso deitar um pouco no quarto dela?” pedi permissão “Estou com uma dor de cabeça infernal. Misturei um vinho francês com um inglês e estou sentindo uma enxaqueca insuportável”.
         “Acho que sim”. Alexia disse desconfiada.
         “Okay, sei o caminho. Eu não sairei do quarto dela até ela voltar. Avise-a. Ficarei o mês inteiro se necessário, mas ela precisa me ouvir” adverti.
         Entrei no quarto notando o quão Sally era assustadoramente organizada. Em sua escrivaninha não havia uma caneta sequer fora do lugar e sua cama, bem como todo o resto estavam perfeitamente alinhados. Nícolas não mentiu, o perfume que ela usou antes de sair estava no ar.
         Alexia apareceu na porta do quarto da Sally preocupada com minha presença, com minha aparência e com a discussão que temia vir com a chegada da Sally.
         “Você quer comer alguma coisa?” perguntou ela.
         “Não... Estou muito enjoado”. Respondi.
         Nícolas aproximou por detrás de Aléxia deixando-a tensa com sua aproximação. Eu já observava suas reações diante do Nícolas a algum tempo. Havia algo mais. Ele saiu detrás dela e olhando meu rosto meio atrapalhado, sorriu debilmente.
         “Toma um banho cara, você se sentirá melhor” sugeriu Nícolas entrando quarto e apontando para o banheiro.
         “Eu vou aceitar o banho”. Concordei levantando-me da cama, eu precisava permanecer na casa o máximo que eu pudesse para colocar as mãos na loira fujona.
         Alexia focou-me com seu olhar terno e com uma pequena caixa de primeiros socorros em mão buscava algo incessantemente.
         “Taylor eu vou lhe dar uma remédio para aliviar sua dor de cabeça” disse ela saindo do quarto e voltando rapidamente com um copo de água.
         “Beba apenas um comprimido desses e vai se sentir melhor” sugeriu.
         Nícolas vendo seu ato de generosidade também queria ajudar.
         “Você quer uma roupa minha para vestir?” ofereceu Nícolas lembrando-me da minha cueca que Sally havia raptado.
         “Não é necessário. A Sally mandou lavar essas que estou usando”.
         “Ah... Então ela não te deixou peladão de proposito” parodiou.
         “Deixou sim...”. Encerrei entrando no banheiro notando que ambos haviam saído do quarto para me dar privacidade.
         O banho aliviou um pouco mais minha articulação. E o remédio de Alexia removeu parte da dor de cabeça ficando apenas a dor que sentia no meu coração. Sentei na beira da cama reflexivo notando seu violão torto em cima da poltrona, eu não havia notado, mas ele estava fora do lugar, ela parecia muito organizada para deixá-lo ali, exceto se saísse às pressas. Porque sairia tão apressada? O que era tão urgente?
         Nícolas vendo que eu observava o violão tomou-o em suas mãos e começou passar seus dedos entre as cordas como se brincasse.
         “Toque a música que você disse que ela tanto ouve. Consegue?”.
         “Consigo tocar qualquer coisa que eu já tenho ouvido”.
         “Então. Toque” ordenei vendo-o se sentar na poltrona.
         Nícolas começou tocar Plateau, o som da música percorreu meus tímpanos como se nivelasse a agonia que eu sentia. Eu nunca o havia visto cantar exceto pela vaga lembrança de nós dois bêbados no carro cantando ¹Come as you are na madrugada do meu aniversário. Sua voz havia sido umas das mais bonitas que já havia ouvido, em algumas partes da musica chegou a superar o próprio Kurt Cobain em afinação. Ele era muito bom, mas eu nunca havia tido a oportunidade de apreciar seu talento, era um dom de família pelo visto.
         Ao final da música Nicolas se calou olhando para a porta do quarto com um olhar tempestuoso, Sally havia chegado. Ouvi sua voz e antes que Alexia dissesse que estava lá corri ao seu encontro.
         Sally empalideceu como se visse uma assombração, mas manteve a postura permanecendo aparentemente firme. Abriu um sorriso fechado e olhou-me como certa curiosidade.
         “Oi Taylor. Que surpresa!” ela falou simplesmente.
         “Surpresa boa eu espero” provoquei.
         “Ah sim. Uma surpresa perfeita” comentou ela sorrindo maliciosamente.
         “Posso falar com você em particular?” pedi.
         “Não sei... Estou um pouco cansada. Não dormi. Estou um pouco indisposta. Pode voltar outra hora?” ela deu uma desculpa como se eu não fosse ninguém.
         “Não Sally. Tem que ser agora” recusei sua estratégia de escape.
         “Okay, eu vou lhe acompanhar até seu carro enquanto conversamos”.
         “Está me expulsando?” perguntei aborrecido enquanto ouvi Nícolas se deliciar com a cena. Ela o fitou com os olhos e voltou para a conversa.
         “Taylor... Claro que não... De forma alguma. É que estou um pouco indisposta e preciso dormir um pouco para conseguir me concentrar”. Ela falou colocando um envelope sobre a mesa, mas fingi não notá-lo.
         Ao chegar à varanda da casa, Sally me encarou como se eu fosse apenas um cara qualquer e mesmo sua respiração parecia sarcástica. Fervi por dentro.
         “O que você quer?” ela perguntou séria.
         “O que eu quero?” perguntei surpreso com sua indiferença.
         “Olha Taylor. Se você veio até aqui para me dizer mesmices, economize sua saliva. Não quero ouvir as suas desculpas, nem nada. Já sai antes de toda essa lorota porque não suporto mais ouvi-las.” Esbravejou dura.
         Ela estava enfadonha e me confrontou como se eu não tivesse o menor controle das minhas ações. Retomei meu controle e a afrontei em contrapartida.
         “Ah sim, claro! Obrigada pela atenção. Eu não vim me desculpar Sally. Você exagerou. Não havia necessidade de me deixar naquele quarto de hotel sozinho, ainda mais depois de tudo que houve. Admita”.
         “A qual tudo se refere?”
         “Esquece!” encerrei já exausto.
         “Admita você o quanto é horrível ser abandonado. Taylor. Você fez pior”.
         “Eu não deixei você nua Sally”.
         “Mas eu me senti nua... Me senti perdida e sozinha... E assim segue a lista de sensações estranhas e dolorosas que senti”. Disse ela justificando.
         “Eu peço desculpas mais uma vez. Você tem razão. Sempre teve, mas continuo achando desnecessário o que você fez” Falei sentindo sua raiva subir.
         “O que eu fiz? Você se refere ao fato de te deixar nu ou apenas por ter indo embora pela manhã?”
         “Um misto dos dois” Respondi chateado e imprevisivelmente.
         “Então... Não vou pedir desculpas por lhe deixar nu, muito menos por ir embora pela manhã. Não vou me desculpar porque esse foi o trato Uma noite como lembrança e não vinte quarto horas de amor, ou até que a morte os separe”. Esbravejou furiosa.
         “Tem razão. Foi apenas uma noite como lembrança” cedi sabendo que eu não podia oferecer nada a ela, não naquele momento. Havia dor em suas palavras, mas havia muita verdade em tudo que ela disse e eu precisava aceitar embora estivesse com raiva pela sua fuga. Sally mudou muito, ela estava apreensiva, mas também muito precavida e ainda mais astuta. Isso era bom.
         “Então está tudo certo” ela concordou sem meias palavras encerrando nossa conversa como se nada mais importasse.
         “Você está muito diferente” Critiquei cedendo a minha gana.
         “Agente aprende” ela provocou com um sorriso mordaz.
         “Aprende mesmo. Será que você, por favor, devolver a chave do meu carro?” pedi querendo desaparecer da sua frente.
         “Sim, claro. Aqui está!” ela balançou o chaveiro diante dos meus olhos.
         “Meu pendrive, onde está?” inquiri vendo-a esmorecer.
         “Não sei onde deixei. Lamento. Passa amanhã” disse levando-me ao inferno. Seu desdém deixava-me louco, embora merecesse.
         “Passar amanhã? É sério?” indaguei quase perdendo o controle.
         “Sim! Porque acha que estou brincando?” perguntou Sally repreendida.
         “Eu é quem devia estar com raiva por você ter me deixado naquele hotel sem roupas, sem lençóis, sem nada” expliquei-lhe.
         “Dói né?” ela caçoou rebatendo.
         “Eu me desculpei pelo que fiz Sally. Eu lhe devolvi o carro, a caixa e tudo que havia de nós dois. Entendo sua raiva, mas se desfaça dela!”.
         “Você acha mesmo que me devolvendo muda o que você fez? Você não pode me comprar Taylor. Não me comprou a primeira vez e não iria comprar agora. Ter o carro de volta é bom, mas nunca tê-lo perdido era melhor”.
         “Você tem razão. Não posso mudar o que passou, nem o que fiz. Estou desperdiçando o seu e o meu tempo. Melhor eu ir” cedi me afastando.
         “Tudo bem... Até mais” Concordou pausando e saindo da minha frente. A sensação era estranha. Coloquei a chave na ignição e respirei fundo.
         Entrei no interior do meu carro e fiquei com a cabeça no volante tentando me acalmar. Eu experimentava minha raiva e culpa se atracando por um espaço no meu coração, mas eu não queria ceder para nenhum desses sentimentos. Eu não precisava ser guiado por eles.
         Eu ainda queria dizer mais algumas coisas a ela. Recuperei minha calma. Deitei minha cabeça sobre o volante e desliguei o carro. Eu não tinha o direito de estar tão bravo. Apesar de serem situações diferentes, eu não podia comparar a dor que ela sentia com a minha.
          Voltei ao interior da casa enquanto ouvia a voz da Sally com Nícolas no aparentemente no quarto de Aléxia conversando sobre o havia acontecido.   Pensei em chamar, mas o envelope que ela havia deixado em cima da mesa me atraia convidando-me para ver o que havia no seu interior. Eu sabia que era errado, mas ela havia saído às pressas por causa de algo relacionado com que tinha no interior do envelope, eu queria saber o que era.
         Minha curiosidade arrastou-me ao erro obrigando minha consciência a invadir sua privacidade, mas uma sensação estranha tomou conta de mim quando imaginei o que havia no interior do grosso envelope.
         Eu o abri.
         Tomei o pacote em minha mão e iniciei a leitura, eu deveria ler rápido e devolver imediatamente. Minha vista passou pelo conteúdo do documento, então notei que Sally e Channing Tatum o haviam assinado. Enfraqueci.
         Três tipos de medo me envolveram naquele momento e quando vi o conteúdo e as cláusulas um frio me invadiu eriçando-me cada vez que o nome de Channing era mencionado.
         Senti um sabor amargo, um velho sabor que só ela me fazia sentir.  Por mais que Sally houvesse mudado, temi que ela não conseguisse lidar com tudo aquilo. Eu conhecia o jogo, sabia como jogar, mas ela poderia se machucar.
         Ouvi alguém se aproximar e tentei esconder o documento, mas era tarde demais, os olhos azuis de Sally revezavam o foco entre mim e o documento em minhas mãos sem dizer uma palavra. 
         Quando me deparei com seu olhar e com todo o sentimento que havia no meu coração, eu o ouvi gritar me propondo uma solução momentânea. Uma ideia aparentemente genial tomou-me a mente. Olhei em seu olhar e depois de tanto tempo longe aceitei a ideia. Talvez eu pudesse ter mais que apenas uma noite como lembrança. Havia finalmente uma saída e a essa altura eu era capaz de tudo para tê-la um pouco mais.
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¹Plateau – Música da banda Nirvana.

¹Come as you are – Música da banda Nirvana.

 
 
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