Eu o observava tão tranquilamente, sua face
pacífica me fazia ansiar por acariciá-la, mas uma ação podia levar a outra e
isso não seria conveniente levando em conta meu envolvimento emocional em
completo caos.
Era
inevitável não admirar sua a face, seu corpo sobre a cama entre os lençóis e
seu cabelo agora mais desalinhado, porém de igual encanto pessoal. A ânsia em
tocá-lo tomava conta de mim, mas ao passo que a veleidade vinha de súbito ela submergia
ao confrontar minha lealdade ao Ashton. Eu amava Taylor, porém minha paixão por
Ash me consumia, me dividindo, decompondo meus sentimentos com os erros que
Taylor havia cometido e o resultado final era um caminhar em círculos e, uma
confusão generalizada.
Era
possível sentir seus longos suspiros, às vezes pausando e outras vezes
acelerando, como se expusessem seus sonhos ou pensamentos alvoroçados
envolvendo algo que seu inconsciente julgava importante.
Ao contrário de Taylor, Nícolas se mantinha de
pé e se duvidar pronto para mais uma noite. Eu não o havia interrogado, mas o
faria assim que Tay fosse embora. Era notório que algo o incomodava, ele estava
sério demais, era quase impossível que Nícolas não jogasse suas indiretas e a
falta destas era um pouco apavorante e preocupante.
Ele estava quieto, parecia perdido em sua cabeça
enquanto seus orbes demonstravam um montão de preocupação.
“Bom dia
maninha?” Perguntou sério, esboçando um sorriso mefistofélico como se me
tivesse em suas mãos.
“Bom Nícolas.” respondi esperando que ele não
dissesse algo desagradável, mas não seria o Nícolas se não fosse indiscreto.
“A noite
foi boa?” Inquiriu ele com seu
cinismo enquanto notei Aléxia num canto lendo algo em seu celular.
“Sou eu quem pergunta se a noite foi boa, quem
foi a uma festa foram vocês dois.” Suspirando, respondi-lhe enquanto olhava seu
jeito estúpido.
“Eu me refiro a sua noite com o Taylor.”
insistiu ele cortando minha esquive.
Aléxia parou o que lia no celular e atentou ao
rumo da conversa.
Ela olhou para mim e consecutivamente para Nícolas
perguntando em ato contínuo “O que houve no boliche?”
Nícolas respirou e ficou sério repentinamente.
“Nada demais, apenas adultos se divertindo,
exceto pela parte que o Taylor disse que dormiu com a Sally.”
“Ele disse que havia dormido comigo?” descrente
do que ouvia desejei ser uma estratégia dele pra descobrir algo.
“Ele não só disse que dormiu com você, como também
disse que você havia gostado de estar no comando.” Nícolas gesticulou com seus
dedos abrindo e fechando aspa. Suas palavras me causaram um gelo na espinha. Ele
sabia que Taylor e eu havíamos ficado juntos e, o pior, eu estava com Ashton
agora. “Estou aborrecido com isso Sally”. Ele rematou vendo que eu nada havia
dito em minha defesa, no entanto, eu não tinha como explicar tudo o que houve
por que nem mesmo eu entendia Taylor ou suas razões.
“Eu não dormi com o Taylor, ele estava bêbado e
logo adormeceu.” Justifiquei com mais uma evasiva e também para que ele não
pensasse que eu havia me rendido.
Nícolas não entendia muito de sentimentos e se
entendia ele sabia esconder como ninguém. Ele nunca havia amado ninguém, mas
ele não queria que eu me envolvesse com alguém como ele.
“Afinal, de quem você gosta Sally?” perguntou
ele parecendo muito certo da resposta, “Se você curte o Taylor, o que está
acontecendo entre você e Ashton Kutcher?” indagou zangado levantando o tom de
voz.
A impressão é que ele temia ser castigado pela
forma como ele sempre se comportou com as mulheres, parecia temer que eu me
envolvesse com alguém como ele, poderia ser isso ou não, mas o fato é que
Aléxia o olhava orgulhosa e isto era notório em seu olhar satisfeito.
Ela gostava dessa parte dele, admirava o zelo
que tínhamos um com o outro, mas isso não mostrava nem por um momento uma
faísca sequer de uma possível transformação naquele ocasião. Ele era um
canalha, mas também nunca disse o contrário ou agiu como se fosse um cara
correto, por isso o desmazelo das palavras do Taylor havia soado muito
ultrajante.
Ignorei sua pergunta agradecendo aos Céus por
ele se dar por satisfeito ou ao menos fingir e não vir atrás de mim enquanto eu
regressava ao quarto.
Taylor ainda dormia e eu estava apreensiva. Seu
iphone branco vibrava sobre a mesa, olhei o visor, estava escrito mãe,
provavelmente preocupada porque ele não havia chegado a sua casa ainda. Esse
podia ser um pretexto para acordá-lo, mas não era somente isso, eu também temia
que Ashton chegasse a qualquer momento e encontrasse a cena que certamente
censuraria e me colocaria em maus lençóis.
“Taylor acorda..., Taylor acorda, por favor,”
ele virou de bruços ignorando meu chamado, como se minha voz o deixasse ainda
mais confortável para voltar a dormir, já eu estava aflita, preocupada com o
que Nícolas faria ao concentrar toda a raiva que sentia nas palavras que fazia
morada em seu pensamento “Precisa acordar. Sua mãe está ligando!” continuei
chamando-o, ele abriu seus olhos lentamente, como se estivessem cerrados e
necessitasse embeber-se da luz que adentrava no ambiente.
Taylor finalmente estava acordando.
“O que
faz aqui?” perguntou ele como se estivesse em casa, ainda deitado, franziu a
testa, passou a mão no rosto e se levantou assustado, ainda tonto e não disse nada
mais, apenas se dirigiu ao banheiro enquanto eu fiquei aguardando sua volta. “O
que houve?” perguntou ele saindo do banheiro após um banho, ele parecia sentir
que não havia acontecido somente coisas boas na noite passada.
“Você se
lembra de alguma coisa?” perguntei desejando que a resposta fosse ‘sim’, mas
sua fisionomia confusa pôs fim a minha breve expectativa. “Qual o seu problema
Taylor?” perguntei imaginando a cena dele dizendo na frente dos seus amiguinhos
famosos e do meu irmão que havia ficado comigo.
A sensação era de desprezo, eu sentia como se
fosse apenas mais uma loira bonita de Hollywood que havia sido o objeto de
desejo um galã mediano, eu estava aborrecida, era isso que minha consciência me
dizia.
Ele arregalou os olhos.
“O que
houve? Será que você pode me dizer? Porque eu não lembro, por favor, apenas
diga o que eu fiz de errado.” Ele perguntou, finalmente parecendo notar minha
impaciência e desapontamento.
“Você
disse na frente dos seus amigos que havia ficado comigo, e o pior Taylor é que você
disse na frente do Nícolas. O que eu represento a seu ver? Diga-me!” gritei
levando-o a um estado de defesa.
“Eu não
sei por que eu fiz isso Sally, não sei o que me levou a isso. Pedir desculpas
não farão as palavras entrarem na minha boca e diminuir sua decepção, só posso
pedir perdão”.
Ele me
olhou nos olhos e olhou para a porta do quarto desejando sair, ele não parecia
temer Nícolas e isso era o que me intrigava.
“Perdoe-me
Sally, eu estou tão envergonhado.” Pediu aproximando-se, mas não permiti
anulando qualquer pretensão de me tocar.
“Estou
decepcionada. Nunca mais toque no meu nome com ninguém. Você veio com aquela
conversa de proteger minha imagem e ferra com ela por um gole a mais. Quem você
pensa que é? Alias, não. Diga-me, quem você pensa que eu sou?”
Esse tom
havia sido alto demais e insuportável aos ouvidos do Nícolas que já se escorava
na porta, como se planejasse uma carnificina.
“O que está acontecendo
aqui?” perguntou Nícolas fixando seu olhar no Taylor e ignorando minha presença
totalmente.
“Desculpa.
Não está acontecendo nada Nícolas, estamos apenas conversando, eu devo
desculpas a todos vocês.” Articulou Taylor extenuado e tristonho.
“Desculpas
por dizer que dormiu com a minha irmã? Desculpas por falar sobre as suas
posições sexuais favoritas na mesa de um boliche e ainda audaciosamente dizer
que ela gostava de estar no comando?” vagarosamente Nícolas continuou num humor
sombrio.
Taylor ficou
calado por alguns segundos buscando palavras para responder-lhe, mas elas se
esquivaram da sua boca e a única coisa visível era o quão envergonhado ele
havia ficado com aquilo tudo.
“Eu não
me lembro de ter dito isso, mas estou profundamente decepcionado comigo mesmo.”
Ele disse olhando nos olhos cadenciado de Nícolas, ainda assim prosseguiu “Fiz
tudo errado. Tudo isso foi um grande erro e me desculpem por todo dano que
causei”. Ele fitou seus olhos em mim
em tom de despedida, “Sei que nada justifica meu comportamento, seja o álcool
ou qualquer outro motivo que ocasionou a nossa separação,” disse pausadamente
“Nem mesmo tenho o direito de pedir perdão a essa altura.”
Taylor
abaixou a cabeça e ultrapassou a frente de Nícolas para a saída do quarto. Ao
avistar Aléxia buscou novamente por palavras e eis que estas haviam se
refugiado em qualquer lugar e mantinham-se indisponível para qualquer tentativa
dele em se desculpar.
“Espere!”
demandou Nícolas em sua direção deixando Aléxia envolvida pela mais profunda
tensão. “A culpa não é só sua,” disse Nícolas ficando diante de Taylor, em
seguida voltou sua atenção em minha direção e completou pausadamente a seu mais
novo amigo enquanto me olhava. “Eu provoquei você, a culpa de você ter dito
aquilo é parcialmente minha.”
Pela primeira vez na vida
Nícolas admitia estar errado. Aléxia permaneceu pasma com o escarcéu mental que
a confissão de Nícolas havia soado não só para ele, mas para todos nós.
Ele
admitira um erro, por sua própria reflexão, pela sua própria consciência,
Taylor não se lembrava, nenhum de nós estava lá, mas ainda assim Nícolas
assumia sua parcela de culpa. Isso foi nobre, inédito e no mínimo surpreendente
tendo em vista a deficiente conduta moral que Nícolas desenvolvera.
Era notório naquele momento
que Nícolas havia desenvolvido por Taylor uma camaradagem, uma amizade que
sobreviveu mesmo após ele cometer um erro. Essa amizade apenas brotava, mas
mesmo em seus ramos primitivos haviam sido de capazes de desenvolver em Nícolas
um pouco de prudência. Muito embora Taylor tivesse parecido nunca mais querer
nos rever, sentia que a relação entre ambos não acabara ali.
Não havia
muito que Taylor pudesse dizer e não havia mais nada que pudéssemos fazer.
Naquele momento não pude discernir a magnitude do meu desapontamento, apenas o
dividi entre as duas pessoas que haviam sido capazes de causar essa decepção:
Nícolas era meu irmão e Taylor o homem que eu amava, mas este último deu as
costas e se foi.
Apenas o
vi desaparecer, senti-me aliviada com sua partida como nunca imaginei ficar,
contudo, havia muito em jogo e eu não desperdiçaria mais as oportunidades da
minha vida por uma relação ilusória, eu tinha uma relação sólida com Ashton
para me dedicar e minha dedicação a partir daquele momento seria somente a esta
relação.
Meus sentimentos eram
confrontados com minha razão e por diversas vezes minhas reflexões só me
levavam ao ódio. Eu sentia que tinha algo errado, mas não entendia, não aceitava
e não tinha a menor ideia do que poderia ser.
* * * * *
Ashton
apareceu sorridente para me ajudar com a mudança para a casa nova, eram apenas
algumas malas e caixas, com algumas coisas que havíamos comprado há dois dias para
decorar a casa.
Ele era tão
atencioso que chegava a me machucar com sua doçura, pois por mais que eu me
esforçasse sentia que não me entregava por completo. Nícolas e Aléxia cuidaram
da mobilha e, dos detalhes enquanto Ashton e eu fomos para sua casa após
deixarmos minhas poucas coisas no meu novo lar, pois no dia seguinte seria o
lançamento da Esquire comigo na capa.
A ansiedade me consumia de tal forma que eu me
sentia tensa e não conseguia dormir com a expectativa. Ashton por sua vez
tentava ler um livro, mas minha inquietação o fez desistir.
“Venha até aqui amor,” disse ele pedinte com
aquele sorriso resignado que me consumia completamente, impedindo-me de negar
seu pedido “O que está havendo com você?” ele perguntou acreditando que o pivô
da minha ansiedade era o meu lançamento. E era, ao menos um pouco, mas a
parcela maior da minha ansiedade era a culpa, o receio por sua reação caso eu
lhe contasse sobre o episodio com Taylor. Eu temia sua renuncia a relação que
havíamos construído e, ainda que fosse contra minhas próprias regras e
honestidade, não relatei o ocorrido e atribui minha angustia apenas ao
lançamento da revista. “Vai dar tudo certo Sally. Fica calma, okay?” ele disse
me puxando para me deitar na cama.
E eu senti uma alfinetada da culpa.
“Eu estou apavorada. Eu sonho que seja um
sucesso, mas temo o insucesso.”
Ashton me observava atentamente “Vai ser um
sucesso.” disse após a breve pausa.
“E se não for um sucesso?” indaguei olhando-o
nos olhos.
“Se não for um sucesso, esse fracasso será uma
experiência, e então, continuaremos tentando.” suas palavras soaram
desanimadoras apesar de ser um incentivo.
Ashton estava certo, poderia ser um sucesso ou
poderia ser apenas mais uma revista lançada. Era muito cedo para saber. Após
muito tempo pensado adormeci em seus braços, acordando apenas após ele retirar
seu braço cansado.
Ao amanhecer acordei disposta e Ashton havia
retomado a leitura do seu livro, que havia sido o agente principal da
interrupção.
Finalmente minha estréia como modelo
aconteceria.
Nícolas, Aléxia, Ashton e Eduarda, assim como a
equipe produtora da Ford Models estavam todos ansiosos. Seria como ópera:
amariam ou odiariam.
Era minha vez de bilhar; era meu dia; era tudo
ou nada.
Eduarda ligou informando que a festa de
lançamento da Esquire aconteceria às 19h00min. Nícolas estava impaciente e
cochichava ao ouvido de Aléxia a cada dois minutos, como se fizessem um complô
contra mim.
“O que está acontecendo?” perguntei apavorada
imaginando que algo estava errado, eles nada disseram, exceto pelo sorriso meia
boca do loiro diabólico que parecia tramar uma conspiração secreta e infame,
mas eu estava errada.
“Não está acontecendo nada.” responderam os dois
em coro. Eu não sabia o que ele tramava. Nícolas e eu não nos falamos, ignorei
todas as suas tentativas de pedir desculpas. “Sally, eu sei que você ainda está
zangada comigo, mas gostaria de te dar um presente de estréia.” ele disse
pausadamente olhando o visor do celular, mas ignorei seu comentário e me dirigi
ao salão para fazer um penteado para a grande noite e levei Aléxia comigo.
Eu não falava com Nícolas de forma nenhuma, da
mesma forma que não queria falar com o Taylor.
Meu vestido estava pronto. Aléxia e eu voltamos
após a grande produção, Eduarda enviara uma maquiadora para preparar todas nós
para festa. Chegamos às 16h00min e a maquiadora chegaria às 17h00min. Entrei no
quarto e vi o sorriso satisfeito do Nícolas, tão logo visualizei uma mala média
próxima a sala de estar.
“De quem é essa mala?” perguntei confusa.
“É seu presente. É meu pedido de desculpas pela
noite do boliche.” disse ele olhando-me nos olhos e eu me senti derreter um
pouquinho, mas não demonstrei.
“O que tem dentro?” perguntei, mas antes que ele
pudesse responder entrei completamente na sala, então vi duas figuras em pé
próximas à janela, com seus olhares especulativos, as lágrimas caiam de seus
olhos misturando-se aos sorrisos de orgulho e felicidade. “Ah, meu Deus!”
exclamei quase sem voz e corri abraçando aquelas duas pessoas, como se pudesse
uni-los em meus braços e nunca mais soltar.
“Tudo bem filha?” perguntou minha mãe me
abraçando individualmente.
“Está sim. Meu Deus, como isso aconteceu?” Perguntei
com meu coração em festa ao visualizar meus pais juntos.
“Não podíamos perder sua grande estréia filha.” Respondeu
meu pai notando a falta de palavras da minha mãe e me abraçando individualmente
também.
“Eu chamei os velhos para ver você desfilar
maninha.” Disse Nícolas entrando na conversa e eu o abracei.
“Obrigada, mas hoje eu não vou desfilar. Hoje é
só uma festa de lançamento.” Agradeci pausando.
Aléxia entrava na sala igualmente emocionada.
“Sua mãe está querendo matar você por largar a
faculdade e vir atrás da Sally.” meu pai disse a ela numa repreensão sutil, mas
ela ignorou, não era o momento para resolver isso. Papai entendeu e se voltou
pra mim “Então..., depois de tanto tempo vou usar um terno?” ele murmurou
sorridente vendo Nícolas elegante e perfeitamente alinhado em seu terno slim.
“Eu já estou pronto” disse ele mostrando que era
capaz de falar com nosso pai após a discussão que o tinha feito ir embora de
casa.
Era um milagre o que estava acontecendo.
Meus pais juntos era um grande presente ainda
mais em um momento como aquele. Eu não havia falado sobre meus planos de ser
modelo com eles, temi que achassem loucura, mas Nícolas havia descoberto tudo e
para se redimir os trouxeram para me apoiar.
Ver meu pai e Nícolas se falando após tudo que
havia acontecido fazia valer a pena estar ali. Naquele momento refleti
momentaneamente e percebi que mesmo que a revista não tivesse o resultado que
eu esperava, ou que minha carreira de modelo não acontecesse, ela já havia me
proporcionado uma experiência de grande valia.
Ashton estava certo, afinal, fracassar não podia
ser encarado como fim senão como mais um degrau para a grande subida que me
levaria ao topo.
Ashton ficou surpreso ao conhecer os sogros tão
abruptamente, mas não parecia nervoso. Meu pai ficou um pouco deslumbrado, eles
conversaram brevemente e pareceram se dar bem. Meu namorado vestia um belo
terno, a elegância não só dele, mas de Nícolas e Aléxia era fascinante.
Todos nós estávamos a caminho da festa, minha família
ao meu lado, meu namorado e minha melhor amiga. Minha satisfação estava
completa, mas por algum motivo o ‘nativo americano’ não saia da minha cabeça.
O que mais eu poderia
querer?
A grande festa acontecia, conheci muitas
pessoas, muitas celebridades que haviam sido capa das edições anteriores
estavam presentes e eu finalmente conheci os editores da Esquire. Como as fotos
eram da Ford Models, eles haviam adquirido os direitos autorais e uma
porcentagem dos ganhos.
Havia uma banda de Heavy Metal tocando no local,
os clássicos cantados iam desde as melhores músicas do Scorpions acústicas, até
Nirvana, Coldplay e Guns N' Roses.
Sentamo-nos em uma mesa grande e falamos sobre
diversas coisas, havia muitos fotógrafos, vários sites haviam enviado sua
equipe, a imprensa estava em peso para mais um lançamento da Esquire Magazine.
Eu havia feito duas campanhas da Malwee – uma
marca de Jeans muito conhecida em todo mundo –, eram para comerciais de televisão
e uma das grandes revelações seria uma prévia de 40 segundos do Spot durante a
festa.
A festa entrou madrugada adentro e a maioria das
pessoas já haviam ido embora, fiquei muito contente com o Spot da Malwee e
ansiosa para ver na TV no dia seguinte. Nícolas, assim como Eduarda e sua
equipe haviam bebido um pouco, a After party da Esquire rolava de fato.
“Eu amo essa música.” disse Eduarda ao ouvir a
versão acústica de Rock you like a
hurricane¹. Nícolas estava completamente envaidecido pela beleza da herdeira
da Ford Models, seu cinismo parecia não ter fim.
“Meu amor se você gosta tanto posso cantar para
você até amanhecer o dia.” disse ele em um flerte inusitado pegando Eduarda de
surpresa.
“Sério? Canta mesmo ou vai balbuciar o refrão e
dizer bobagens durante o resto da noite?” ela o enfrentou a altura.
“Meu amor, apenas me diga outra música que você
adora e eu mando aquele cara calar a boca, e canto só para ver esse seu sorriso
se abrir mais uma vez enchendo esse pobre coração de alegria.”
Todos na mesa rimos discretamente.
Ela não o conhecia, por isso o desafiou.
“Okay, loiro! Mande ele calar a boca e canta
Patience².”
Ele a olhou.
“Guns N' Roses?
Isso é fichinha.” Ele se levantou e
seguiu em direção ao palco e ela sorriu achando que seria apenas um blefe
enquanto meus pais observam a cena.
Nícolas
interrompeu os músicos pedindo o violão e começou a dedilhar as notas entre as
cordas, iniciando o toque lentamente. Não foi necessário que ele sequer
começasse a cantar para surpreendê-la, pois graciosidade como assoviava a
música, ele a deixara completamente maravilhada.
Sua voz grossa
ecoou como uma trombeta angelical atraindo a atenção de todos que ainda estavam
presentes. Nícolas olhava o semblante do meu pai que nunca havia notado o
quanto ele era bom.
Ele sentia orgulho. Na verdade, o sentimento dos
meus pais, meus próprios e de Aléxia não poderia ser outro.
Meu pai queria que Nícolas fosse advogado como
ele, mas meu irmão queria ser músico e meu pai nunca aceitou que ele seguisse
essa carreira, pois a julgava sem futuro, por isso também não revelei aos meus
pais minha intenção de ser artista, tive medo de que fizessem o mesmo
julgamento.
“Ah meu deus, ele é incrível!” exclamou Ashton
impressionado “Ele cantaria Purple Rain brincando.” completou não escondendo
sua surpresa ao ver a perfeição da voz do meu irmão, assim como suas
habilidades para o instrumento musical que parecia fazer parte do corpo de
Nícolas de tão grande que era a reciprocidade entre ambos.
Aléxia estava enciumada pelo flerte, mas adorou
ver a forma como Nícolas calou a milionária gostosa mostrando que ele não era
um Zé Ninguém.
Nícolas terminou de cantar e foi aplaudido em pé
pelo público que ainda estava na festa, alguns assoviavam e gritavam comemorando
pelo presente que havia sido compartilhar da experiência, que era ouvir um
clássico do Rock ser tão bem representado.
“Meu Deus cara você canta muito.” elogiou Ashton
ao recebê-lo de volta a mesa.
Nícolas era muito transparente e estava
satisfeito com a festa. E, mesmo sabendo que Ashton era o responsável por tudo,
era inegável sua antipatia por ele. Seu favoritismo sempre pertenceria ao Taylor,
apesar do deslize que este tinha cometido, o que eu não sabia, mas saberia
tempos depois é que a amizade deles se fortaleceria e isto se devia muito ao
fato de Taylor mesmo após o erro ter tentado contornar a situação embaraçosa, e
então, deu novos e corretos contornos ao seu deslize. Talvez por Nícolas ser desatento
tenha sido o motivo pelo qual ele não me revelou que Taylor havia contornado a
situação na frente dos amigos. O fato é que por muito tempo senti raiva deste
último pela forma como ele se expressou mesmo estando embriagado.
Meus pensamentos foram interrompidos pela risada
de Eduarda Morais ao admitir que Nícolas tinha talento.
“Você me surpreendeu rapaz.” disse ela encarando-o.
Ele fez uma reverencia encenada.
“Obrigada moça, mas melhor do que eu somente
minha irmã aqui.”
O olhar surpreso de Ashton me focava, eu fingi
não notar.
“Você canta amor? Por que não me contou?”
perguntou Ashton ganhando um olhar mortal do meu pai ao estranhar alguém se
dirigir a mim dessa forma. Ele assim como Nícolas não havia sido capaz de me
desvincular da menininha doce que sempre fui para a mulher que eu estava me
convertendo.
“Eu não canto bem, mas Aléxia sim é
surpreendente.” Eu disse jogando e ao mesmo tempo dizendo a verdade, afinal,
era a mais pura verdade.
“Meu Deus, pelo visto só eu não sei cantar nessa
mesa.” disse Eduarda Morais levando todos ao riso.
“Nicolas, Sally e Aléxia formavam um grupo de
louvor na igreja desde a infância até a pré-adolescência.” relevou minha mãe.
“Nossa, você nunca me disse isso Sally.” a voz
de Ashton e seu toque em minha mão soavam como encorajamento.
“Eu não vou cantar porque não quero ser vaiada,”
disse Aléxia pausadamente “Mas Sally nunca seria vaiada eu garanto.” Garantiu
colocando meus olhos em pratos.
“É sua grande noite amor, vai lá!” Pediu Ashton
ludibriado e metediço para ouvir minha voz, mas fazia tanto tempo que temi
gaguejar.
“Nossa, eu não canto a uma década, nem saberia o
que cantar.”
“Vai lá filha,” meus pais pediram ao mesmo tempo
em que Aléxia acrescentava sorridente “Sally deixa de ser boba, estamos esperando.”
“Eu não tenho nada em mente.” justifiquei sem
entusiasmo.
“Canta aquela música que você compôs há dois
anos quando Nícolas foi embora.” recomendou Aléxia lembrando-me de Little House³.
“Nesse ramo não pode haver timidez Sally.” a voz
de Eduarda Morais meio entorpecida pelo álcool soou incentivadora, era meio
desesperador, mas funcionou.
Os olhos de todos fixaram-se em mim, a
expectativa era muito grande, eu estava nervosa, mas não desisti. Tomei o
violão em minhas mãos e introduzi os primeiros acordes. Um dos músicos ao ouvir
o som do violão começou a acompanhar com o violino, havia algumas pessoas
filmando, inclusive a equipe do evento com equipamentos profissionais.
“Essa música que vou cantar se chama Little
House.” Eu murmurei.
Nícolas estava perplexo, pois não sabia que eu
havia composto essa música pensando nele após sua partida.
Regressei a tocar o violão e o violino
acompanhava, parecia conhecer a música, eu nunca tinha visto uma banda tão boa.
Então cantei...
Eu não via ninguém, apenas soltei minha voz de
uma forma que pelo menos para mim parecia traduzir tudo o que eu havia sentido
quando Nícolas foi embora. Era uma dor entorpecida, e tive vários flashes
dolorosos do abandono mais recente que sofri.
Ashton parecia nem respirar, não só ele, mas
todos estavam assustados, embasbacados, como se o melhor vinho tivesse sido guardado
para o final da festa.
Eu ainda não sabia, mas aquela simples canção
seria umas das portas para a fama, e logo eu me surpreenderia.
________
Rock you like a hurricane¹: Música da banda
Scorpions.
Patience²: Música de Guns N' Roses.
Little House³: Música de
Amanda Seyfried.